OUTWORLD: a melhor banda de prog metal que você nunca conheceu
Por Júlio Feriato
Útima formação, com o vocalista Carlos Zema.
Em 2006, um disco surgiu para mostrar que o metal progressivo ainda tinha cartas novas na manga. Autointitulado, o álbum de estreia — e também despedida — da banda norte-americana OUTWORLD é um daqueles trabalhos que, ao serem revisitados hoje, deixam uma sensação agridoce: a de que um gigante havia acabado de dar seu primeiro passo, mas nunca chegou a caminhar.
A formação que gravou o álbum era de peso: Rusty Cooley (guitarra), Bobby Williamson (teclados), Shawn Kascak (baixo), Michael Lewis (bateria) e Kelly Sundown Carpenter (vocais). A química era explosiva: Cooley, já reconhecido como um shredder insano, conseguiu equilibrar técnica e riffs sólidos; Williamson trouxe densidade e atmosfera; a cozinha segurava firme e Kelly adicionava dramaticidade rara. Sua voz, aliás, merece destaque: encorpada, versátil e absolutamente única, difícil de comparar a qualquer outro vocalista do gênero. O resultado? Uma fusão de DREAM THEATER e SYMPHONY X com o peso sombrio de NEVERMORE e a agressividade moderna de MESHUGGAH.
Capa do debut autointitulado de 2006.
O repertório é coeso e memorável. “Raise Hell” abre como um soco técnico e cheio de groove, “Riders” oferece refrão grudento sem abrir mão da sofisticação, “City of the Dead” mergulha em texturas sombrias, enquanto “Prelude to Madness” funciona como ponte instrumental digna de clássicos do prog. "The Never" impressiona pelo peso e groove. O clímax vem em “I, Thanatos”, uma verdadeira mini-suíte que resume a proposta da banda: peso, virtuosismo e melodia em igual medida.
Formação com o vocalista Kelly Sundown Carpenter.
O disco recebeu atenção: saiu em 2006 nos EUA e ganhou edição europeia em 2007, sinal de que o som tinha fôlego para atravessar o Atlântico. Em 2007, a banda venceu o prêmio FameCast Fenom Contest na categoria melhor banda de Metal e melhor vocalista, conquistado por votação popular — um feito que mostrava que não apenas os críticos, mas também o público, estavam atentos.
Um capítulo importante se abriu logo após a saída de Kelly Sundown Carpenter e de Michael Lewis: Carlos Zema — conhecido no Brasil por seu trabalho com as bandas HEAVEN'S GUARDIAN e VOUGAN — assumiu os vocais, enquanto Matt McKenna passou a tocar bateria.
Capa da "Promo 2008".
Essa nova fase rendeu material próprio, como o EP Promo 2008, com quatro faixas (Weltschmerz, Blindness, Faceless Enemy e Purity) que poderiam facilmente figurar em um álbum completo. O registro é revelador da capacidade criativa do OUTWORLD: apresenta uma musicalidade mais agressiva, porém igualmente intensa, equilibrando o virtuosismo característico de Rusty Cooley com linhas vocais carregadas de dramaticidade. Carlos Zema imprime sua marca com uma interpretação poderosa e visceral, contrastando com a sofisticação mais lírica de Kelly Carpenter, o que confere ao material uma identidade própria. Não é exagero dizer que este EP é uma joia pouco explorada da discografia da banda, um retrato de uma fase promissora que acabou não se consolidando por completo.
Além disso, também foram lançados os singles "War Cry" (regravada com a voz de Zema), que ganhou videoclipe, e "Polar". Esse conjunto de registros consolidou a percepção de parte do público, que passou a associar a música e a imagem do OUTWORLD também à fase com Zema.
No entanto, a trajetória do grupo foi marcada por turbulências: Rusty Cooley iniciou o projeto DAY OF RECKONING e chegou a convidar Zema para assumir os vocais, mas o cantor não se identificou com a direção musical proposta.
Houve ainda tentativas de manter a chama acesa, mas, em março de 2009, Rusty Cooley anunciou oficialmente o fim do OUTWORLD. Os músicos seguiram outros rumos: Rusty com o DAY OF RECKONING, Williamson se destacou no EUMERIA, e Zema segue sua carreira com as bandas IMMORTAL GUARDIAN e o HEAVEN'S GUARDIAN.
E assim, o OUTWORLD ficou como uma promessa interrompida. Um único álbum, capaz de impressionar tanto pela técnica quanto pela força das composições, e uma história marcada por trocas de vocalistas, saídas estratégicas e divergências musicais que impediram a consolidação. A verdade é que, se a formação tivesse se mantido estável por pelo menos mais um ciclo, estaríamos falando de um nome de peso ao lado dos grandes do prog metal moderno.
Outworld continua sendo um registro de potencial bruto — um lembrete de que, às vezes, basta um disco para criar uma lenda. O gigante nunca acordou de fato, mas o primeiro passo que deu ainda ecoa forte entre os fãs de metal progressivo que ousam revisitar sua curta, porém intensa, trajetória.
Nota: Não confundir o OUTWORLD americano com outras bandas de mesmo nome espalhadas pelo mundo. Este artigo se refere ao grupo texano de progressive/power metal formado em 1997 e responsável pelo álbum homônimo de 2006.
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