Em setembro de 1996, quando as igrejas não eram mais incendiadas, os noruegueses GEHENNA lançavam Malice (Our Third Spell), seu terceiro trabalho de estúdio, como o próprio nome já diz. Neste álbum a banda conseguiu criar um híbrido de seus lançamentos anteriores (o EP First Spell e o full-lenght Seen Through the Veils of Darkness), mas com maior ênfase nas guitarras melódicas e teclados para dar aquele clima mais sinfônico.
Na verdade, Malice foi um título bastante adequado. A música é sombria, maligna e maliciosa, mas também estranhamente bela e agressiva, com uma produção mais limpa e amigável para os ouvidos do que a dos discos anteriores. As guitarras estão menos distorcidas e talvez um pouco abaixo na mixagem, mas isso não chega a ser um grande inconveniente no final, pois estão em pé de igualdade com os teclados, onde a tecladista Sarcana fez questão de variar notas e criou melodias que na época não eram tão comuns entre as bandas do estilo (o DIMMU BORGIR viria a fazer algo semelhante no Enthrone Darkness Thriumphant somente no ano seguinte).
A música que abre o disco, “She Who Loves the Flames”, é um exemplo de como black metal começava a se tornar sedutor, sendo uma música cativante o suficiente para se tornar a queridinha sonora dos fãs do gênero por causa de sua forte atmosfera melódica e alguns riffs que soam mais heavy metal tradicional do que black metal. Um plus são os vocais roucos e baixos (uma marca registrada da GEHENNA), que mantêm sua maléfica vibração o tempo todo. E a banda não teve medo de trabalhar com essa fórmula composicional mais de uma vez.
Em "Touched and Left for Dead”, os noruegueses resgataram a atmosfera dos discos anteriores, com aquela combinação do ritmo lento, vocais sombrios e sintetizadores viajantes que criam uma sensação triste e depressiva que se encaixa perfeitamente no clima da letra. Já “Bleeding the Blue Flame” começa com melodias que lembram bastante o AMORPHIS no clássico Tales from the Thousand Lakes; uma boa surpresa, diga-se de passagem.
“Ad Arma Ad Arma” é a faixa mais longa de Malice, quase quatorze minutos. Liricamente, ela retrata um mundo inserido no caos após uma guerra nuclear, e apesar de sua abordagem bastante melódica, a banda ocasionalmente criou um tipo de frieza apocalíptica e poderosa, combinando perfeitamente com a aura do álbum.
As faixas "The Pentagram" e "The Word Became Flesh" caminham na mesma direção e deixam claro que os músicos tinham um talento incrível para criar trilhas fantásticas de black metal com partes ocasionalmente melódicas.
A faixa-título é interessante por combinar todos os ingredientes essenciais da banda em apenas três minutos: sintetizadores épicos, boas melodias de guitarra, sentimento malicioso, explosões furiosas e, finalmente, um final calmo com violão.
Por fim, em Malice (Our Third Spell) o GEHENNA conseguiu seguir estritamente seu rumo preferido durante todo o disco sem faltar em qualidade devido a enorme quantidade de músicas excelentes e pegajosas.
Mas, apesar de toda essa bela sonoridade indiscutível, a banda nunca chegou atingir a mesma relevância de seus compatriotas EMPEROR e DIMMU BORGIR. Motivos? Tenho minhas suspeitas. O disco foi lançado na europa pelo selo inglês Cacophonous Records, que veio a falir algum tempo depois e deixou muitas bandas na mão. Triste.
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