28 setembro 2025

REVEL IN FLESH: vingança alemã do death metal

Por Júlio Feriato

Embora ainda restrito ao circuito underground europeu, o REVEL IN FLESH se consolidou nos últimos anos como um dos nomes mais consistentes do death metal germânico contemporâneo. Formado em 2011, o grupo surgiu com a proposta clara de homenagear a sonoridade sueca dos anos 90, algo já evidente no próprio nome, retirado de uma faixa do ENTOMBED – referência que não deixa dúvidas sobre suas raízes e intenções.

"The Hour of the Avenger”, quinto trabalho de estúdio, lançado no final de 2019, reforça essa identidade com convicção. O disco abre sem rodeios, oferecendo uma descarga de riffs cortantes e melodias densas que evocam a velha escola escandinava, mas com vigor renovado. Dinâmico, pesado e brutal, o álbum mostra uma banda segura em explorar os limites do gênero sem perder a crueza que o define. O vocalista Ralf Hauber, com seus guturais cavernosos e ocasionais gritos histéricos, dá o tom visceral da obra, conduzindo as composições por territórios tão familiares quanto revitalizados.

A produção, desta vez, recebeu atenção especial: pela primeira vez, a bateria e os vocais foram gravados em estúdios diferentes, enquanto guitarras e baixo permaneceram sob os cuidados do VAULT M. Studios, de propriedade do guitarrista Maggesson. O toque final veio das mãos experientes de Dan Swanö, no renomado Unisound Studios, que além de amigo da banda, é uma lenda viva da cena death metal. O resultado é um som limpo, mas sem esterilização, pesado sem perder nitidez — exatamente o equilíbrio que uma proposta desse porte exige.

Curiosamente, ao longo de sua trajetória, o Revel In Flesh sempre prezou por uma identidade visual ligada ao macabro e ao grotesco. Apenas em “The Hour of the Avenger”, no entanto, um “mascote” sombrio foi introduzido na capa, marcando presença como figura simbólica e expandindo ainda mais a atmosfera da obra. É um detalhe que pode passar despercebido ao ouvinte desatento, mas revela a preocupação da banda em oferecer não só música, mas também narrativa estética.



Se é verdade que muitas formações da onda old school death metal se perderam ao longo do caminho — algumas por insistirem em não evoluir, outras por mudarem radicalmente de direção —, o REVEL IN FLESH parece ter encontrado um ponto de equilíbrio raro. Sem reinventar o gênero ou ambicionar um clássico imediato, a banda demonstra compreender o death metal em sua essência, extraindo dele uma vitalidade que soa atual e honesta. “The Hour of the Avenger” não pretende reescrever a história, mas é prova de que o velho ainda pode soar fresco quando entregue com paixão, técnica e consistência. E, no cenário saturado da música extrema, isso já é um feito que merece atenção.


Atualmente, porém, a banda atravessa um momento crítico: o vocalista Ralf Hauber é o único membro ativo, assumindo vocal, guitarra e baixo. Embora não haja anúncios oficiais sobre o fim da banda, a ausência de novos lançamentos e a saída dos demais integrantes sugerem que o grupo pode estar em uma pausa prolongada, ou até mesmo se encaminhando para o encerramento.

Ainda assim, The Hour of the Avenger permanece como um testemunho da capacidade do REVEL IN FLESH de extrair energia de uma tradição que, em mãos menos inspiradas, poderia soar datada. Mais do que uma homenagem à estética sueca, o disco reafirma o valor de uma banda que, enquanto pôde, trouxe vitalidade e precisão ao death metal alemão.

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