07 setembro 2025

MORFIN: consumidos pela chama do death metal clássico

Por Júlio Feriato

Enquanto veteranos como o MASSACRE tentavam sucessivas voltas com resultados pouco inspirados, muitas bandas jovens surgiam na cena underground, mas poucas conseguiam capturar a essência do death metal clássico. Só que na Califórnia, surgiu uma banda disposta a manter vivo o espírito do death metal noventista: o MORFIN.

O quarteto estreou em 2014 com Inoculation, um álbum que já mostrava maturidade surpreendente para uma banda tão jovem. Com Jesus Romero (vocais/guitarra), Pedro Gonzales (guitarra), Michael González (baixo) e Miguel Hernándes (bateria), o grupo entregava riffs densos e melodias que remetiam diretamente ao espírito da velha escola, estabelecendo a identidade sonora do MORFIN. A produção de Inoculation é satisfatória para um disco de estreia underground: embora não seja brilhante, consegue transmitir o peso das guitarras e a força da bateria de maneira convincente, permitindo que as composições se destaquem.

Em 2017, o MORFIN lançou seu segundo álbum, Consumed by Evil. Da formação original, permaneceram o baixista Michael González e o vocalista/guitarrista Jesus Romero (creditado no disco como Chucho Mairen). Para completar o time, entraram Eduardo Andrade na bateria e Mike De La O na guitarra. O álbum se destaca não apenas pela fidelidade ao estilo noventista, mas também pelo futuro promissor que os novos integrantes encontrariam dentro do death metal. Pouco depois, Mike De La O passou a integrar o SKELETAL REMAINS, ajudando a consolidar a identidade sonora da banda, enquanto Eduardo Andrade também teve passagem registrada pelo grupo. Dessa forma, o MORFIN acabou servindo como ponto de partida para músicos que mais tarde alcançariam maior projeção internacional, o que reforça o valor histórico de Consumed by Evil.

Musicalmente, Consumed by Evil amplia as ideias de Inoculation, com composições mais refinadas e complexas. A primeira impressão ao ouvir o disco é quase cinematográfica: como se o lendário Chuck Schuldiner tivesse deixado algumas composições inéditas de Leprosy guardadas em um cofre, apenas para que fossem reveladas agora. A voz de Chucho Mairena evoca a agressividade e a entonação de Chuck, enquanto as guitarras exploram melodias que lembram uma fusão entre Spiritual Healing e Leprosy, com toques do peso sombrio do OBITUARY.

A faixa de abertura “Reincarnated” mostra riffs cortantes, estruturas bem costuradas e energia que remete diretamente ao auge da velha escola. Músicas como “Slowly Dismembered” e “Illusions of Horror” continuam a linha da velha escola, enquanto “Posthumous” poderia facilmente ter sido parte de uma demo de pré-produção de Human, evidenciando o profundo respeito pelo legado do DEATH. Comparado ao GRUESOME, outro revivalista da cena, o MORFIN soa mais natural, maduro e espontâneo.

Lineup de "Inoculation".

O que impressiona nos dois discos é a maturidade alcançada pelos músicos, mesmo tão jovens. Eles conseguem capturar a essência da época sem cair em mera imitação. No entanto, há uma diferença importante na produção: enquanto Inoculation consegue transmitir o peso necessário para as composições, Consumed by Evil sofre com uma gravação realmente fraca, que mais parece uma demo lançada como álbum. As guitarras perdem densidade, a bateria não soa contundente, e o conjunto geral carece de clareza e impacto, prejudicando o potencial do disco de alcançar maior destaque na mídia especializada.

Ainda assim, essa crueza sonora pode ser interpretada como charme adicional para fãs que buscam reviver o clima do underground da época. No fim das contas, Inoculation e Consumed by Evil são essenciais tanto para veteranos nostálgicos quanto para jovens headbangers que desejam experimentar a brutalidade e a atmosfera que moldaram o death metal no início dos anos 90.



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