29 agosto 2025

ARCHONS: o tesouro oculto do death metal canadense

Por Júlio Feriato


Em 2006, na cidade de Rouyn-Noranda, Quebec, surgiu uma banda que poucos chegaram a conhecer, mas que entregou dois discos capazes de encantar qualquer fã de metal extremo mais exigente: ARCHONS. Apesar de permanecer restrita ao underground canadense, sua sonoridade remetia diretamente à escola sueca do melodeath — especialmente nomes como DARK TRANQUILITY e AT THE GATES. Com apenas dois álbuns, a Archons deixou um registro pequeno, porém marcante, dentro do death metal melódico técnico.

A formação original contava com Simon Descoteaux (baixo), Christian Poulin (bateria), Simon Charette e Francis Beaulieu (guitarras), e Sébastien Audet (vocais). Desde o início, o grupo chamou atenção por unir técnica apurada, agressividade controlada e uma abordagem lírica crítica. O resultado foi sua estreia: The Consequences of Silence, lançado em 2008.


O álbum é uma verdadeira aula de melodeath técnico. A faixa de abertura, “The Enigma of Torrents”, já apresenta a proposta: riffs intricados, solos melódicos e pausas bem calculadas que criam uma atmosfera densa. Faixas como “Delusional Beliefs”, “Pulverizing Inner Thoughts” e “The Fall of a Dreamer” mostram uma banda segura de sua identidade — brutal, melódica e cerebral. A bateria de Poulin é um espetáculo à parte, com blastbeats precisos e variações rítmicas que elevam o nível do trabalho. Já os vocais de Audet, ásperos e intensos, lembram Mikael Stanne (Dark Tranquillity) em sua fase mais visceral, evocando a tradição melódica do estilo.

Outro destaque da ARCHONS está nas letras. Em vez de apostar nos clichês do gênero, a banda explorou temas como injustiça social, alienação e omissão diante de atrocidades. Em “Of Pride and Prejudice”, por exemplo, há um verso que sintetiza bem essa postura (em tradução livre): “Negligência de conhecimento só traz uma onda de ignorância”. Não é apenas uma frase de impacto — é uma crítica direta à passividade intelectual.

A produção do álbum é afiada e clara, dando espaço a cada instrumento. As melodias e harmonias aparecem de forma equilibrada, sempre a serviço da narrativa sonora. O disco mantém sua qualidade do início ao fim, com destaque para “Of Pride and Prejudice”, que traz um dos riffs mais criativos do metal técnico recente, e “Delusional Beliefs”, que surpreende com pausas limpas e bem colocadas.


Onze anos depois, em 2019, a ARCHONS retornou com Buried Underneath the Lies, lançado de forma independente. O álbum manteve a essência melodeath, mas trouxe novas camadas sonoras e uma banda mais madura. Com faixas como “The Slumber (Countless Days of Coma)”, “Nostalgia (Almost Giving Up)” e “I, the Witness”, o disco explorou temas existenciais e emocionais sem perder a pegada técnica e agressiva. A recepção foi positiva entre aqueles que acompanharam o lançamento, embora o trabalho tenha passado praticamente despercebido pela mídia especializada — dentro e fora do Canadá.

Hoje, o status da banda é incerto. Alguns registros, como o Spirit of Metal, apontam que a ARCHONS encerrou atividades em 2013, enquanto o Metal Archives ainda a lista como ativa, mesmo sem novidades desde 2019. De qualquer forma, o silêncio atual só reforça o caráter de culto da banda — um nome que poucos conhecem, mas que merece ser redescoberto.

The Consequences of Silence e Buried Underneath the Lies não são apenas registros esquecidos em algum catálogo: são lembretes de que, no submundo do metal, existem joias escondidas esperando para serem revisitadas. Para quem vive o metal com paixão e exige mais do que apenas peso, Archons é uma descoberta obrigatória.

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