Por Júlio Feriato
| “The Ugly Side of Me" reafirma o poder do nu-metal com refrões grudentos, peso e autenticidade.” |
Mesmo assim, confesso que demorei para digerir o som do TETRARCH. Talvez seja pelo meu velho preconceito contra o nu-metal (algo que levou anos para me libertar), mas ao ouvir o segundo álbum, Unstable (2021), a banda me “ganhou”. Não tem como ficar indiferente aos refrões grudentos vociferados pelo vocalista e guitarrista Josh Fore. E quando vi que a guitarrista Diamond Rowe é uma mulher negra, tudo ficou ainda mais interessante — sim, representatividade importa —, ainda mais sendo ela uma das principais compositoras do grupo.
Agora, com The Ugly Side Of Me (lançado em 9 de maio pela Napalm Records), o TETRARCH mostra que não pretende sair da rota que traçou.
E não é nenhuma surpresa. O grupo segue fiel à própria fórmula — sem mudanças bruscas, sem experimentos desnecessários. São trinta minutos de nu-metal puro, daqueles que poderiam tocar entre "Issues" (do Korn) e "Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water" (do Limp Bizkit) sem ninguém perceber diferença. A faixa de abertura, "Anything Like Myself", é praticamente uma homenagem ao Korn, com baixo pulsante e uma atmosfera sombria de sintetizadores que aparecem e somem nos momentos certos. "Best Of Luck" carrega o mesmo DNA, lembrando o brilho de "Twisted Transistor".
Já "The Only Thing I’ve Got" traz aquela pegada emocional do Linkin Park da era Meteora — refrão gigante, feito pra estádios, e uma produção limpa que realça o impacto. E aqui vale destacar: os refrões são grudentos no melhor sentido, daqueles que grudam na cabeça e fazem a gente querer voltar e ouvir de novo. Há sinceridade nas letras também — em "Never Again (Parasite)", Josh Fore solta um “I gave you my trust, but never again” com uma entrega que soa real, quase como um desabafo. Essa honestidade é o que sempre manteve o nu-metal vivo entre quem cresceu com ele: uma mistura de fúria, vulnerabilidade e melodia.
Mas aqui está o ponto: o TETRARCH é ótimo no que faz, só que essa fidelidade ao estilo tem um limite. Dá pra se manter consistente sem mudar o estilo — o CANNIBAL CORPSE e o OBITUARY provaram isso —, mas ambos foram pioneiros, não seguidores. O nu-metal já teve seu auge e sua queda, e agora vive um renascimento. E The Ugly Side Of Me, embora coeso e divertido, ainda pisa em terreno conhecido. Se a banda quiser ir além, precisa encontrar algo que seja realmente seu — uma identidade que mostre pra onde o gênero pode evoluir, e não apenas revisitar o passado. Mas, se a intenção for justamente essa, então o TETRARCH é vitorioso.
Mesmo assim, pra quem não viveu a época, o álbum é uma bela porta de entrada — quase uma coletânea das melhores sensações do nu-metal. Soa como aquela coletânea em fita cassete que a gente gravava pra ouvir no discman ou no carro, cheia de riffs pegajosos e refrões explosivos. Não reinventa a roda, mas entrega diversão honesta. E às vezes, isso já basta.



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