Após o aclamado lançamento de "Apollo", em 2017, a banda francesa de rock gótico SOROR DOLOROSA entrou em um hiato de quase oito anos — período marcado por rumores sobre um possível encerramento das atividades, alimentados por mudanças em sua formação. Mas em outubro de 2024, o grupo retornou com força total e apresentou "Mond", seu aguardado novo álbum, que reafirmou sua identidade sonora e prometeu cativar tanto os fãs antigos quanto novos ouvintes.
A formação atual reúne dois dos membros fundadores — o vocalista Andy Julia e o baixista Hervé Carles — ao lado dos guitarristas Jean-Baptiste Marquet e Xavier Pinel. Juntos, mantêm viva a essência do SOROR DOLOROSA, com a marcante bateria eletrônica sustentando a atmosfera densa e melancólica que caracteriza o som da banda.
Mixado e masterizado por James Kent (PERTURBATOR), "Mond" apresenta faixas que transitam com naturalidade entre toques eletrônicos, guitarras sonhadoras e um ritmo envolvente que evoca uma aura retrô — quase oitentista — sem abrir mão da autenticidade. O que se ouve aqui vem de um lugar genuíno, íntimo da essência do grupo, e isso transparece em cada faixa. A emoção é tangível, a ambientação sombria é cuidadosamente construída e a composição, meticulosamente elaborada. Com nove músicas, o álbum soa como se tivesse sido teletransportado diretamente de 1986 — no melhor dos sentidos.
Entre os destaques, estão a pulsante "Obsidian Museum", com seu baixo e batidas eletrônicas lúdicas; a engenhosa "Hurlevent", cuja atmosfera rarefeita e natureza catártica conferem profundidade emocional ao disco; e a emocional "Souls Collide", que remete à musicalidade mais introspectiva de "Apollo".
Nos últimos anos, muitas bandas fascinantes surgiram trazendo à tona influências do rock gótico tradicional. Nesse contexto, o SOROR DOLOROSA se destaca não apenas por ser fiel às raízes dos anos 80, mas por fazer isso com autenticidade, e o que a banda entrega em "Mond" está longe de ser uma simples homenagem: é uma criação genuína, com alma, substância e integridade artística.
É comum que discos lançados recentemente enfrentem dificuldades em figurar nas listas de melhores do ano. Mas "Horned Lord of the Thorned Castle" desafia essa lógica. Desde a primeira audição, revela-se uma obra de fôlego, técnica e inspiração — uma estreia que pode muito bem disputar o título de álbum do ano.
Formada em 2018, a banda finlandesa MOONLIGHT SORCERY pode não ter feito muito barulho nos primeiros anos de sua trajetória, com lançamentos restritos a EPs e singles. No entanto, com o aguardado álbum de estreia "Horned Lord of the Thorned Castle", o trio não apenas chama atenção, como redefine expectativas dentro do black metal melódico.
A proposta do grupo se destaca logo de cara: o som é furioso e atmosférico, mas surpreende com solos de guitarra neoclássicos — um elemento pouco explorado no gênero. Enquanto muitas bandas de black metal priorizam os tradicionais riffs com tremolo picking, o MOONLIGHT SORCERY ousa ir além, investindo em passagens técnicas e melódicas que evocam tanto a intensidade do estilo quanto a sofisticação do metal mais virtuoso.
A faixa de abertura, "To Withhold the Day", é um cartão de visitas potente. Remete inicialmente ao som grandioso de DIMMU BORGIR, mas logo se diferencia ao incorporar climas e teclados que remetem a CHILDREN OF BODOM. A combinação é inusitada: se o Bodom flertava com o power metal usando vocais extremos, o MOONLIGHT SORCERY faz o caminho inverso — parte do black metal melódico, mas não se furta a usar elementos do power com naturalidade. O resultado é um som cativante e técnico, com solos impressionantes que elevam a faixa a outro patamar.
A sequência mantém o nível. "In Coldest Embrace" aprofunda a atmosfera sombria com melodias marcantes, enquanto os teclados adicionam uma camada sinfônica eficaz e envolvente. A técnica dos músicos é evidente, mas jamais gratuita: cada elemento soma para construir uma identidade sonora única. Já "The Secret of Streaming Blood" encerra o trio inicial com agressividade, velocidade e mais uma dose generosa do excepcional trabalho de guitarras — talvez o maior diferencial da banda.
À medida que o álbum avança, uma característica se torna evidente: consistência. Do início ao fim, o grupo mantém uma assinatura sólida e bem definida, sem abrir mão da variedade. Faixas curtas como "Vihan verhon takaa" (com apenas três minutos) são tão impactantes quanto a longa e épica faixa de encerramento, que ultrapassa os oito minutos. Até mesmo o instrumental "The Moonlit Dance of the Twisted Jester's Blood-soaked Rituals" encontra seu lugar na narrativa sonora do disco, funcionando como uma ponte atmosférica essencial para a experiência completa.
O encerramento, por sinal, é digno de destaque. Trata-se de uma peça grandiosa, capaz de demonstrar todo o talento e ambição do Moonlight Sorcery — uma escolha acertada para fechar um álbum que, desde já, figura entre os grandes lançamentos do ano no metal extremo.
Com "Horned Lord of the Thorned Castle", o Moonlight Sorcery entrega um trabalho original, ousado e incrivelmente bem executado. Um álbum que promete marcar época e, quem sabe, inspirar outros a seguirem o mesmo caminho.
No mundo do metal, nada parece mais contraditório do que ter religião, mais especificamente o cristianismo. E, analisando ainda mais a fundo, nada poderia ser mais contraditório do que Black Metal com mensagens cristãs explicitamente declaradas. Se você compartilha o critério do Black Metal de Euronymous (isto é, apenas música pesada e satânica), então, o Black Metal cristão não pode existir. Muitas bandas realmente se sentem do mesmo jeito, e é por isso que optam por ser definidas como "unblack metal"; embora sejamos completamente honestos com nós mesmos, Christian Black Metal ainda é uma resposta correta.
Podem me acusar de não ser troo o suficiente, mas eu sempre senti que o black metal é definido pelo som e não tanto pela mensagem. Todos sabemos que este gênero tem características próprias, e que a música pesada e satânica existe sem necessariamente estar sob o rótulo de black metal. Pensar desta maneira me levou ao mundo do unblack metal e me permitiu entender e apreciar os objetivos dessas bandas. É algo intrigante um grupo de cristãos entrar numa cena musical criada com objetivos que especificamente incluem sua perseguição.
Então, para aqueles de vocês que não estão familiarizados com a cena do unblack e são um pouco curiosos, compilei uma lista de sete bandas de Christian Black Metal que você deveria conhecer. A cena de unblack metal é relativamente pequena, e se você deseja explorá-la ainda mais, provavelmente irá encontrar as mesmas bandas repetidas vezes. Dito isto, esta lista que eu compilei é apenas algumas das bandas mais notáveis que surgiram ao longo dos anos. Além disso, com a exceção da primeira banda, tenha em mente que esta não é uma lista classificada.
HORDE
Quando você fala de unblack metal, é impossível não mencionar a Horde de alguma maneira, pois trata-se do projeto solo de Jayson Sherlock, ex-baterista da banda australiana Mortification. Sherlock, que gostava de black metal, mas não gostava das mensagens, decidiu criar uma alternativa para pessoas que pensavam como ele. O resultado disso foi "Hellig Usvart" (tradução: algo próximo à 'holy unblack'/santo não obscuro).
Segundo o próprio Sherlock, ele não foi o primeiro músico a encabeçar um projeto de black metal cristão, mas certamente foi o primeiro a ficar conhecido. Tanto que, o projeto irritou muitos fãs de black metal ao ponto de Sherlock ser ameaçado de morte várias vezes.
Horde é, sem dúvida, o ponto de partida para um subgênero controverso dentro de um subgênero controverso.
Ouça “Release and Clothe The Virgin Sacrifice”
ANTESTOR
Enquanto Horde mostrou ao mundo que fazer unblack metal era possível, Antestor aperfeiçoou a arte. Eles são provavelmente a banda unblack mais notável, e provavelmente influenciaram todas as bandas unblack que vieram depois.
No início dos anos 90, Antestor começou como uma banda cristã de doom/thrash sob o nome de Crush Evil. O seu cristianismo era bem conhecido, e chamou atenção Papa Euronymous (Mayhem), que chegou a fazer algumas vagas ameaças ao grupo. No entanto, Crush Evil perseverou, mudou seu nome para Antestor, e também começou a escrever músicas diretamente ligadas á estrutura do black meta norueguês. Quando perguntado sobre sua fé enquanto tocava black metal, o vocalista Kjetil Molnes explicou que “Nós nos identificamos como black metal como um estilo de música, não black metal como uma ideologia ou crença.”
Antestor, sendo norueguês, aparentemente ainda tentam contornar os problemas com bandas e fãs de black metal. Eles até conseguiram que Jan Axel "Hellhammer" Blomberg tocasse bateria em dois de seus álbuns. Se isso não lhes der um pouco de credibilidade, então não tenho certeza do que poderia.
Assista ao videoclipe da música "Unchained"
CRIMSON MOONLIGHT
Crimson Moonlight tornou-se conhecido na cena unblack no início de 2000, na Suécia. Embora começando com um estilo mais sinfônico e ambiental, álbuns como "Veil of Remembrance" apresentaram uma mudança para influências mais death metal. Eles são definitivamente uma das mais pesadas bandas Unblack que eu já ouvi, e eles são uma grande banda de pop quando você está apenas à procura de algo um pouco brutal e um pouco dark, ao mesmo tempo.
Ouça "The Advent Of The Grim Hour"
FROSTHARDR
Frosthardr foi formado em 1997 na Noruega e entraram na cena apadrinhados pelo Antestor, pois o vocalista Jokull costumava trabalhar com a banda, e o baterista Savn na banda banda Vaakevandring. A marca Unblack de Frosthardr se baseia mais nas tendências cruas do punk e hardcore do black metal, embora álbuns como "Maktesløs" também exibam uma proeza para cordas orquestrais e outros efeitos atmosféricos.
Eles são uma das bandas mais populares do gênero e aparecem em vários documentários, especificamente para destacar o seu envolvimento, como cristãos, em um ambiente muito anticristão.
Ouça "Koma"
SLECHTVALK
Slechtvalk, além de unblack metal, possui também muitas influências folk metal. De um modo geral, eles são comumente identificados como uma banda de unblack e folk metal. Suas raízes estão mais atadas ao folk, além de incorporar nos shows ao vivo fantasias medievais e escrever músicas em torno de temas de guerra.
Atualmente sua música é menos sinfônica, mais rápida e brutal, o que faz com que a banda pareça um pouco mais predominantemente unblack. Muito parecido com outras bandas nesta lista, eles são muito proeminentes na cena unblack, assim como na de metal cristão em geral.
Ouça "Towards the Dawn"
SANCTIFICA
Sanctifica foi uma banda unblack com carreira curta, mas ainda muito memorável da Suécia. Seu primeiro grande lançamento, "Spirit of Purity", era um black metal com muitas influências thrash, mas o próximo e último lançamento, "Negativo B" apresentou um som mais experimental e progressivo.
Na verdade, é uma pena que a banda tenha acabado, pois eles tinham potencial para ser uma das melhores bandas de de metal cristão.
Ouça “Riket (The Empire)”
FROST LIKE ASHES
Frost Like Ashes será a única banda nesta lista a vir dos EUA. Eles incorporam muita teatralidade em seus shows, assim como as outras bandas nesta lista. Eles usam o corpse paint, roupas de couro cravado e rasgam no palco a bíblia satânica.
A banda americana ICON foi uma grande expressão do hard/heavy metal na primeira metade dos anos oitenta. O debut LP, autointitulado, foi lançado oficialmente em 07 de julho de 1984 (quase quarenta anos atrás!) e tinha todos os elementos necessários para se tornar um grande sucesso.
Visualmente, os músicos Stephen Clifford (vocal); Dan Wexler (guitarra); John Aquillino(guitarra), Tracy Wallach (baixo) e Pat Dixon (bateria) pareciam ser mais uma cópia fajuta do MOTLEY CRUE, mas certamente a banda não soava como eles. Musicalmente eram muito mais pesados e realmente entregaram alguns dos melhores discos de heavy metal já produzidos no Arizona naquela época; pois, embora não parecesse ser a próxima banda de hair metal de sucesso, eles realmente eram muito sérios sobre o que estavam fazendo.
Sobre o debut, eis algumas curiosidades:
- Mike Varney (renomado proprietário da Shrapnel Records) havia contratado a banda para sua gravadora, mas, após gravar o álbum e, percebendo seu grande potencial, decidiu “vendê-los” para a Capitol Records.
- O álbum foi gravado em 1984 e temos que perceber que, no mesmo ano, outros álbuns como “W.A.S.P.” (W.A.S.P), “Tooth and Nail” (DOKKEN) “Out from the Cellar” (RATT) e “Stay Hungry” (TWISTED SISTER) foram gravados, todos eles elevando rapidamente as bandas ao estrelato nos EUA.
- O som do álbum foi muito melhor do que a maioria das coisas gravadas na época, especialmente para um álbum de estreia (cortesia de Mike Varney).
- “Icon” tem muitos hits em potencial como “(Rock on) though the Night”, “On Your Feet” (assista ao vídeo no youtube), “World War”... ou a balada obrigatória “It's up to You ” (na verdade todas as músicas poderiam ter sido grandes hits na MTV ou VH1).
- E obviamente eles também contaram com um vocalista realmente bom como Stephen Dixon (alguém entre Don Dokken, Blackie Lawless e Jeff Martin), e um excelente time de guitarras formado por Dan Wexler e John Aquilino (Mike Varney jamais assinaria uma banda sem boas guitarras ).
Ok, alguns podem pensar que todos esses elementos não distinguem a banda dos milhares de projetos de heavy metal surgidos nos anos 80, mas novamente devemos pensar que este álbum foi gravado em 1984, antes da explosão da cena metal de L.A. alguns anos depois e quando algumas das grandes bandas americanas estavam lançando seus álbuns de estreia (veja os quatro citados acima).
Então, o que fez deste álbum parte de todas aquelas cestas de produtos dos anos oitenta?
Não é fácil dizer, mas só consigo pensar em uma combinação de azar, ser de Phoenix e não de L.A. e ter lançado um segundo álbum bem fraco ("Night of the Crime", de 1985) embora bastante elogiado por alguns seguidores do glam metal. De qualquer modo, o ICON nunca alcançou o sucesso esperado e como resultado foram demitidos da Capitol Records.
Em suma, posso recomendar profundamente “Icon” a todos aqueles que gostam de puro metal dos anos 80 (MALICE, GRIM REAPER, OBSESSION, LIZZY BORDEN) porque, se não conhecem a banda, estão a ignorar um dos melhores discos feitos naquela amada década.
Quando Solomon "Sully" Omar, de 23 anos, sentiu que a cena musical em sua cidade natal, Denver, não lhe proporcionava o que procurava, ele tomou uma atitude radical: mudou-se para Cabul, capital do Afeganistão, país devastado pela guerra de que seus pais fugiram décadas atrás.
“Eu vim aqui para continuar minha educação e ao mesmo tempo ver o que há na cena musical daqui e também trazer algumas das minhas habilidades à ela”, diz Omar.
Solomon "Sully" Omar se apresenta com a banda afegã de metal District Unknown no terceiro festival anual Sound Central Festival em Cabul.
Omar é membro do DISTRICT UNKNOWN, uma banda de metal cuja apresentação foi um dos destaques do recente Festival Sound Central de música e artes alternativas em Cabul. Mais de 30 bandas se apresentaram em quatro dias durante o terceiro evento anual.
E se você pode imaginar, o cenário de indução de suor do DISTRICT UNKNOWN teve centenas de espectadores afegãos em pé.
Omar diz que ficou agradavelmente surpreso ao encontrar uma cena musical de verdade quando chegou a Cabul.
"Eu esperava encontrar..." - ele faz uma pausa - "nada."
"Eu não sabia que existia uma cena metal e dub step", diz Omar. "Eu realmente não esperava que a música estivesse viva e respirando bem e saudável aqui no Afeganistão."
Omar, de 23 anos, nascido no Colorado diz que ficou agradavelmente surpreso com a vibrante cena musical que encontrou quando desembarcou em Cabul no ano passado.
O retorno da família ao Afeganistão
As raízes de Omar são afegãs. Ele nasceu e foi criado no Colorado, onde seus pais se estabeleceram depois de deixar o Afeganistão após a invasão soviética de 1979.
Depois que o Talibã foi retirado do poder em 2001, o pai de Omar voltou ao Afeganistão, onde agora trabalha para o Projeto de Educação Superior da Universidade de Massachusetts em Cabul. Sua mãe trabalha em Cabul aconselhando mulheres empresárias.
Seu irmão e sua irmã também se mudaram para o Afeganistão, e Omar foi o último da família a se reinstalar em Cabul.
Ele chegou em agosto passado e se tornou o tecladista, segundo guitarrista e backing vocal no DISTRICT UNKNOWN, após inicialmente ajudá-los a produzir algumas músicas.
Os pais de Omar compareceram ao Sound Central Festival, e foi a vida se fechando para a família. O pai de Omar - que ele descreve como um artista e ex-hippie - se apresentou no mesmo palco do Centro Cultural Francês nos anos 70.
"Meu pai é um grande defensor da minha carreira musical", diz Omar. "Ele quer que eu termine minha escola como primeira prioridade."
Omar está fazendo exatamente isso. Atualmente estudante da American University em Cabul, ele espera estudar produção de música eletrônica no Berklee College of Music em Boston.
Omar diz que é uma experiência diferente atuar diante de um público afegão.
“É uma mistura de pessoas que são grandes fãs de música e artes alternativas, e pessoas que são completamente novas nisso, e acho que é uma ótima mistura”, diz ele.
Embora tenha fãs em Cabul que apreciam o DISTRICT UNKNOWN e seu trabalho como DJ, ele recebe olhares estranhos das pessoas quando conta sua história.
“A maioria das pessoas que conto que vim para cá, afegãos, olham para mim do tipo: 'O quê? Por quê?' " ele diz.
Mas, pelo menos musicalmente falando, Omar foi capaz de encontrar o que procurava.
“Estou feliz aqui. Aqui está o que eu ansiava nos Estados Unidos como músico - encontrar uma cena musical próspera e virgem. Essa é a coisa mais incrível que eu poderia querer”, diz Omar. "Não está nas circunstâncias perfeitas, mas vou aceitá-lo."
Este artigo foi originalmente publicado em 2013 no site da NPR. Diante dos recentes acontecimentos no Afeganistão, opto por republicá-lo aqui no blog como forma de resgate e denúncia. O objetivo é lembrar que, apesar das inúmeras adversidades enfrentadas pelo país, o Afeganistão também abriga uma vibrante – ainda que silenciosa – comunidade de fãs de heavy metal. Jovens que encontram na música uma forma de resistência, identidade e liberdade.
Com a volta do autoritarismo religioso, é provável que esses indivíduos tenham suas liberdades ainda mais restringidas. Manifesto, aqui, minha solidariedade ao povo afegão e repúdio a qualquer regime que, sob o pretexto da fé, oprime, censura e atenta contra vidas humanas em nome de uma falsa divindade.
O selo Psywar começou as atividades como uma campanha pela derrubada do governo Bolsonaro. Foto: Fernanda Lira (Instragram).
Fonte: Assessoria de Imprensa
Fundado durante a pandemia da COVID-19 pelos irmãos Berman Berbert e Vinny Berbert, o selo Psywar começou as atividades como uma campanha pela derrubada do governo Bolsonaro.
A pauta principal, estampada na camisa réplica do Bad Religion, era "Fora Bolsonaro" - usada por grandes nomes da cena metal e rock no Brasil, como Fernanda Lira, da CRYPTA e Maurício Boka, do RATOS DE PORÃO. As atividades de panfletagem, apoio na organização de atos, e venda de material marcaram o início do selo. Além dessa campanha, a dupla encabeçou uma das poucas vozes que pediam a liberdade do ciberativista Julian Assange no Brasil, ajudando a levar o tema bem pouco falado às discussões na época e ganhando reconhecimento por algumas organizações internacionais empenhadas nessa causa. Atualmente, a Psywar está ativa nas mobilizações contra o genocídio em Gaza.
Os irmãos, fundadores da banda de hardcore punk MALVINA, tiveram a ideia de somar discos independentes aos materiais políticos, com um grande reforço do selo santista Caustic Records na época.
Bandas como MUKEKA DI RATO, MALVIA, SECT, ONE TRUE REASON e STRIFE estavam no catálogo do site e nas bancas em eventos. Posteriormente, outras bandas ganharam distribuição de material físico pela Psywar, como ANGVSTIA, TRASTE, UUZOMI, NISTE (Argentina), MLC (Argentina) e os finlandeses do GLASS WIPE, depois da turnê européia do Malvina em 2024.
A turnê europeia reforçou uma vontade já antiga dos irmãos, ao se depararem com a forma totalmente 'Do It Yourself' e organizada de fazer a cena rolar na Europa, a ideia de lançar bandas que o selo acredita, não só fisicamente, mas em todos meios de streaming, com uma divulgação bem planejada, ficou mais sólida, e dessa forma a Psywar começa a expandir mais sua atuação, com um trabalho de fomento e divulgação mais amplo do underground nacional.
O selo se prepara para lançar o novo álbum da banda mineira TRASTE
A primeira escolhida é a banda punk mineira Traste, que terá seu novo disco lançado pelo selo.
Os irmãos comentam: "Essa iniciativa é uma resposta à cultura hegemônica da classe dominante. Somos uma alternativa em meio a várias outras. Viemos somar forças e abrir mais caminhos para toda forma de ativismo e expressão artística, instigar o engajamento, conscientização, e por fim, reagir à violência do capitalismo".
Alex Kirst (bateria), Geoff Siegel (guitarra), Inger Lorre (vocal), Cliff D. (baixo) e Sam Merrick (guitarra)
THE NYMPHS foi uma banda liderada por Inger Lorre, uma cantora e compositora enigmática, que provavelmente também foi uma das musicistas mais talentosas de sua geração. Eles eram claramente uma banda competente e com visão de futuro, mas, que não fora criada para se encaixar no mundo comercial. Na verdade, se você está procurando um exemplo de um grande conceito que falhou e queimou, é esse.
Essa é uma história sobre como é difícil ser bem-sucedido no setor musical.
Com sede em Los Angeles no final dos anos 80, a banda foi arrebatada pela gigante gravadora Geffen Records e considerada uma revelação. Soando muito diferente de tudo na época, seu incendiário hard rock alternativo galvanizou a gravadora a acreditar que a banda tinha a chave para o futuro. De muitas maneiras, eles fizeram um álbum impressionante, dirigido pelo respeitado produtor britânico Bill Price, o mesmo homem que domou os Sex Pistols, incendiou o Clash e deu aos Pretenders um som que continua a perdurar.
"Eu preciso dizer que ele era um cara muito amigável, bastante formal, mas um homem que era fácil de se conviver e que nos ajudou bastante", declarou o guitarrista Geoff Siegel, em uma entrevista na época.
No entanto, como Siegel aponta tristemente, o relacionamento entre os membros da banda foi tenso, o que não tornou o processo de gravação confortável.
"Éramos conhecidos por sermos uma banda instável", lamenta. "E certamente nunca nos demos muito bem, pois nada que essa banda fez foi fácil. Todo o processo de gravação foi muito caótico, havia discussões constantes entre nós sobre tudo e qualquer coisa. Suponho que uma maneira de ver isso é que a tensão dentro da banda ajudou a aumentar o nível geral de intensidade, o que foi um grande impulso para a maneira como tocamos no álbum."
O estresse em estúdio aumentou quando Price foi subitamente escalado pela gravadora para trabalhar com o Guns N" Roses, que estava a trabalhar no disco "Use Your Illusion", o que deixou a galera do Nymphs bem puta da cara.
"Disseram-nos que Bill passaria um mês trabalhando com o Guns N' Roses e depois voltaria para nós", suspira Siegel. "Mas no entanto ele retornou somente depois de uns quatro ou cinco meses, e, realmente, isso destruiu a banda. Nós argumentamos que Bill deveria ficar conosco, mas que chance tínhamos contra uma grande banda como o GN'R? Eles sempre iriam ganhar".
De qualquer modo, não é justo dizer que David Geffen, chefão da gravadora Geffen, tenha "abandonado" os Nymphs. Ele garantiu que os músicos tivessem dinheiro para continuar vivendo enquanto esperavam a volta de Bill e também garantiu que houvesse um orçamento decente para promover o álbum.
Porém, o Nymphs não era uma banda que aceitaria humildemente uma decisão de negócios com a qual eles discordavam veemente... A vocalista Inger Lorre era alguém que tinha sua própria maneira de defender sua opinião, fato que o executivo Tom Zutatut veio a descobrir de uma maneira nem um pouco ortodoxa.
"Você tem que entender a situação em que estávamos na época", defende-se Inger ao explicar os eventos que levaram a um dos mais infames incidentes do mundo da música na década de 1990.
"Assinamos nosso contrato com a gravadora mais ou menos na mesma época que o Red Hot Chili Peppers e Jane's Addiction. Mas, Tom Zutaut queria nos manter no gelo até, como ele mesmo disse, chegar a hora certa. Então, não apenas não fomos autorizados a entrar no estúdio por muito empo, mas também não podíamos tocar ao vivo".
"Como dependíamos totalmente do dinheiro que recebíamos da Geffen para viver, todos nós tínhamos medo de fazer qualquer coisa que os incomodasse, porque poderia acabar conosco. Então seguimos suas intruções. mas quando entramos no estúdio, o Jane's Addiction já tinha dois álbuns lançados, e os Chili Peppers também tinha um lançado."
Mais tarde, quando Inger descobriu que Bill Price estava trabalhando com o GN'R, as coisas ficaram muito mais tensas.
"Certo dia, cheguei ao estúdio e encontrei os engenheiros enrolando nossas fitas guardando-as. Quando perguntei o que estava acontecendo, eles me disseram para perguntar à Geffen. Então tentei ligar de casa para o Tom, mas não consegui mesmo após várias tentativas.
"A essa altura eu já estava bêbada e muito enfurecida! Então decidi ir pessoalmente até o escritório da Geffen e confrontá-lo cara a cara. Chegando lá me disseram que ele estava em uma reunião e decidi esperar."
"Enquanto esperava eu devo ter bebido uns oito copos de café ou água. Até que finalmente eu entrei em seu escritório. Ele sentava em uma cadeira enorme atrás de uma mesa grande, na frente havia um sofá pata os visitantes. Mas eu disse a ele que queria sentar em sua cadeira para esta reunião, e ele poderia sentar no sofá. Tom concordou e comecei a falar lenta e razoavelmente sobre a situação. Até que, cuidadosamente subi naquela mesa e mijei em tudo que estava sobre ela!"
Tom Zutaut no entanto lembra que a explosão de Lorre (por assim dizer) foi um pouco mais traumática do que isso... "Corria tudo bem no começo da reunião, mas quando Inger percebeu que o Nynphs havia perdido Bill por aquele período de tempo, ela enlouqueceu. Ela literalmente rasgou as roupas, subiu na minha mesa, abriu a virilha e mijou em todos os lugares, inclusive em mim! Então ela saiu furiosa."
"Minha secretária entrou alguns minutos depois e me encontrou sentado ali totalmente traumatizado, coberto de mijo. Ela pensou que era água e foi buscar alguns lenços. Na época foi muito chocante. Agora, porém, posso rir disso."
Chocante ou não, o "protesto" de Lorre deu certo. No dia seguinte, a cantora recebeu um telefonema da Geffen e foi informada que Bill voltaria a trabalhar com a banda o mais rápido possível. "Pelo menos eles entenderam que só queríamos ele e mais ninguém!", diz ela gargalhando.
O disco saiu finalmente em 1991, mas a má sorte persistiu, pois mais ou menos na mesma época o Nirvana lançou o hiper-mega bem sucedido "Nevermind", que vendeu milhões mundo afora, obrigando a Geffen Records investir todos os seus recursos nele e deixar bandas menores como os Nymphs em segundo plano.
"Eu não culpo a Geffen por isso", declara Siegel. "Eles fizeram o possível por nós. Gravamos videos para "Imitating Angels" e "Sad and Damned", e também pagaram para que fizéssemos uma turnê americana de dois meses abrindo para o Peter Murphy. Devo dizer que eles nos trataram muito bem e ficaram entusiasmados com o álbum".
Infelizmente, a turnê com Peter Murphy provou ser a sentença de morte para a banda, já que as relações entre Lorre e os outros se deterioraram além do ponto sem volta.
"Inger tornou-se impossível de lidar", declara Siegel. "Ela ameaçava sair da banda o tempo todo e até se recusando a subir no palco para um show. A atmosfera era terrível."
EM 22 DE JUNHO DE 1992, as coisas chegaram ao auge no Cameo Theatre em Miami Beach, com um cenário que agora parece uma farsa.
"Inger disse que não queria subir no palco", lembra Siegel. "Então, o resto de nós decidiu ir em frente sem ela. Ela nunca apareceu para os ensaios de qualquer maneira, então estávamos acostumados a tocar sem ela. E também podíamos lidar com o lado vocal. Então, cinco ou seis músicas em nosso set , ela entrou, vestindo seu pijama e um chapéu! Ela começou a discutir conosco no palco, bem à vista do público. Eles devem ter pensado que éramos um bando de malucos. Foi uma loucura. Então não aguentamos mais e a demitimos. Decidimos continuar como um quarteto, mas foi o nosso fim."
Siegel, que admite não ter falado com Lorre desde aquela noite infame em Miami, acredita que a cantora pode ter tido problemas para lidar com as exigências de estar em uma grande gravadora.
"Acho que ela nunca quis estar com uma empresa como a Geffen. No que lhe dizia respeito, The Nymphs deveria estar em uma gravadora independente. Ela estava sempre tentando tornar a vida tão difícil para todos nós. Eu realmente Acho que isso poderia ter nascido de uma frustração de onde ela se encontrava como artista. Mas, no final, não havia como progredirmos com ela."
Na verdade, a banda parou logo depois de se separar de Lorre. "Geffen realmente queria fazer um segundo álbum conosco", confirma Siegel. "Mas todos nós acreditávamos que não valia a pena continuar. Naquela época, eu havia dedicado três anos da minha vida a essa banda e não estava preparado para perder mais tempo com isso. Além disso, parecia errado continuar sem a pessoa que começou The Nymphs. Então decidimos nos separar."
Inger, porém, nega veementemente que ela foi demitida. "Eu sei que é isso que Geoff diz às pessoas. Mas alguém realmente acha que eles teriam demitido a pessoa que fundou a banda e escreveu todas as músicas? Eu fui embora. Tom Zutaut até voou para Nova Jersey, para pedir aos meus pais que tentassem me convencer a voltar."
"Depois que saí, não conseguia nem ouvir rock 'n' roll no rádio; tudo o que ouvia era música clássica. Foi de partir o coração para mim. Eu amava tanto a música e tê-la tirado foi demais para suportar. Houve até momentos em que pensei em não estar aqui. Tive problemas em lidar com o tempo que levou para entrarmos no estúdio e fazer o álbum, talvez eu tenha enlouquecido um pouco na época..."
Mas o álbum em si também mexe com as emoções, e nos faz apreciar o brilhantismo totalmente louco da banda.
"Para mim, The Nymphs foi a banda que praticamente inventou o grunge", insiste Zutaut. “E eles teriam recebido o crédito por isso se o álbum tivesse sido lançado quando deveria ter sido. Pessoas como Courtney Love iriam assistir Inger. Mas deixar a banda esperando pelo produtor enquanto ele trabalhava com o GN'R custou a chance deles", admite.
"A MTV estava pronta para colocar 'Imitating Angels' em alta rotação quando eles se separaram. Eu tentei persuadir Inger a ser paciente e esperar algumas semanas para se firmar na MTV, e então ele teria sido maior do que 'Smells Like Teen Spirit'. Mas ela me disse para me foder, ligou para David Geffen e brigou com ele sobre colocar sua carreira e vida em espera e então disse a ele que The Nymphs havia se separado. E como resultado, ele me disse que a gravadora estava retirando o vídeo da MTV e também decidiu que a empresa não trabalharia mais com a banda. Aquele telefonema psicótico para David Geffen custou não apenas sua carreira, mas também a de sua banda. O problema de Inger é que ela tem rosto de anjo e alma de demônio. É por isso que este álbum é um clássico perdido em vez de um prenúncio multimilionário do movimento grunge."
Inger Lorre é uma pessoa dedicada à paixão e compaixão pela música. É instilado em seu ser e a move emocionalmente a uma profundidade que só acontece com verdadeiros artistas. Ela encontra conforto e uma bússola por causa da música - isso lhe dá voz e substância. E ela está totalmente focada nisso.
"Quando fui para Los Angeles, as pessoas me disseram que havia uma chance em um milhão de conseguir. Mas eu acreditava que poderia ser essa chance em um milhão. Acreditei na esperança e ainda acredito na esperança."
Sobre o disco, Inger se diz intensamente orgulhosa dele. "É atemporal. Não ouço muito, mas quando ouço, fico muito satisfeito com o resultado. Muito disso se deve a Bill Price e também a ótimas canções. Soamos como nós mesmos; Bill capturou aquil e multiplicou por 10. Em um nível pessoal, eu realmente não sabia cantar naquela época. Mas encontrei uma maneira de tentar cantar que me deu meu próprio estilo. Isso foi importante - ter individualidade."
Como banda, The Nymphs era único, e é por isso que este álbum não é um clássico perdido - "É" um clássico.