Após abandonar o EVANESCENCE no meio de uma turnê em 2003, o guitarrista Ben Moody seguiu carreira escrevendo e produzindo para artistas como Avril Lavigne, Kelly Clarkson, Celine Dion e Anastacia, além de lançar sua própria gravadora e um CD solo.
Mas em 2009, depois da saída do baterista Rocky Gray e do guitarrista John LeCompt do Evanescence, Moody reuniu os ex-colegas para formar o WE ARE THE FALLEN. Para completar o time, convidaram Carly Smithson, que ganhou destaque como finalista da 7ª temporada do American Idol em 2008, para assumir os vocais, junto do baixista Marty O’Brien. O nome da banda remete diretamente ao álbum Fallen, do Evanescence — uma escolha que já entregava a intenção clara de se aproximar da sonoridade e do espírito daquele período.
A ideia surgiu da vontade de Moody e dos outros membros em retomar uma sonoridade que eles sentiam que havia sido perdida após suas saídas do Evanescence. O grupo queria, de certa forma, resgatar a essência do gothic metal melódico que havia marcado o início da década passada. Porém, isso trouxe consigo um problema: a constante comparação com a banda que os projetou. Carly Smithson, apesar de talentosa, carregava uma voz muito próxima da de Amy Lee, o que para alguns parecia mais uma imitação do que uma identidade própria.
O We Are The Fallen rapidamente gravou e lançou o álbum Tear The World Down em 2010, contando com a produção de Dan Certa. O disco trouxe a mistura de guitarras pesadas, teclados atmosféricos e letras melancólicas que remetem diretamente ao estilo de Evanescence, sem, no entanto, conseguir imprimir uma voz ou direção verdadeiramente original. Faixas como “Bury Me Alive” e “Paradigm” são emblemáticas nesse aspecto, praticamente ressuscitando uma fórmula já bem conhecida do público.
Apesar do lançamento gerar alguma expectativa, a recepção foi morna. Muitos críticos apontaram a falta de inovação e o apego excessivo às raízes do Evanescence como fatores que prejudicaram o crescimento do grupo. O álbum teve boa aceitação entre fãs do gênero, mas não conseguiu se firmar em um mercado que já buscava novidades.
Logo após a turnê de divulgação, a banda entrou em hiato. O silêncio nos anos seguintes indicou um fim prático para o We Are The Fallen, embora não tenha havido um anúncio oficial de encerramento. Carly Smithson retomou sua carreira solo e permanece ativa, participando de eventos e lançamentos esporádicos, incluindo apresentações em festivais como o ShipRocked em 2022.
Ben Moody voltou a focar em produção e composição, mantendo-se mais nos bastidores e até compartilhando versões reimaginadas de músicas do álbum Fallen para celebrar o 20º aniversário daquele disco. Rocky Gray, conhecido também por sua passagem por bandas como Living Sacrifice e Soul Embraced, seguiu ativo na música, envolvendo-se em diversos projetos paralelos e lançando um álbum solo em 2015.
John LeCompt continuou trabalhando em projetos independentes, mantendo-se presente no cenário underground, enquanto Marty O’Brien consolidou sua carreira como baixista de sessão e turnê, colaborando com nomes como Static-X, Tommy Lee e Daughtry, com quem chegou a fazer turnê em 2022.
O We Are The Fallen, hoje, é lembrado mais como um experimento que nunca conseguiu se desvencilhar da sombra do passado. Um esforço que, apesar de sólido tecnicamente, acabou aprisionado na nostalgia, incapaz de construir uma trajetória própria e duradoura.
O disco que revelou uma das primeiras vozes femininas do metal tradicional americano ainda vive no coração dos headbangers old school.
Lançado em 1985, "Mystery of Illusion", álbum de estreia da banda CHASTAIN, é um daqueles discos que permanecem como relíquias escondidas do heavy metal tradicional. Liderado pelo virtuoso guitarrista David T. Chastain e com vocais poderosos da então jovem Leather Leone, o álbum é um marco não reconhecido do metal oitentista — uma obra que carrega um valor histórico inegável, mas que infelizmente jamais atingiu o merecido reconhecimento mundial.
O disco surgiu em um momento em que o heavy metal norte-americano vivia sua primeira grande onda de popularidade, impulsionado por bandas como Queensrÿche, Savatage e Manowar. Nesse cenário, o Chastain apresentava uma sonoridade que transitava entre o metal épico, o shred metal e o hard'n'heavy, com riffs afiados, solos técnicos e uma aura mística que dialogava com o power metal nascente. "Mystery of Illusion" é, portanto, parte da fundação do metal técnico e melódico nos Estados Unidos, ajudando a moldar um estilo que depois seria amplamente explorado por bandas como Vicious Rumors e Helstar.
A presença feminina no metal nunca foi fácil, mas "Mystery of Illusion" contribuiu para romper barreiras, mesmo que em escala modesta, ao apresentar uma mulher liderando com total autoridade uma banda voltada ao público mais “true”. Leather Leone é, sem dúvida, uma das grandes forças do disco. Sua voz agressiva e poderosa destoa das vocalistas convencionais do hard rock da época. Em vez de seguir um caminho sensualizado ou radiofônico, ela entrega agressividade, garra e intensidade — o que, por si só, já colocava o Chastain em uma categoria à parte. Em um universo musical ainda predominantemente masculino, "Mystery of Illusion" foi um grito de guerra em nome da diversidade e da potência vocal feminina.
Faixas como “Black Knight”, “I Fear No Evil” e “Endlessly” são demonstrações claras da proposta da banda: letras que falam de batalhas, poder e superação, embaladas por uma guitarra intrincada e uma bateria direta, mas eficiente. Os solos de David T. Chastain são tecnicamente impecáveis, mas o mais notável é que eles nunca soam gratuitos — estão sempre a serviço da canção.
Apesar dessas qualidades, o álbum jamais rompeu a bolha do underground. Lançado pelo selo Shrapnel Records — conhecido por abrigar guitarristas virtuosos mas com distribuição limitada —, o disco teve divulgação restrita e não conseguiu rivalizar com os gigantes do metal que dominavam rádios, TV e revistas especializadas. Ainda assim, com o passar dos anos, foi conquistando um status cult entre colecionadores e fãs mais fervorosos do metal tradicional, especialmente aqueles ligados à cena true metal pós anos 2000.
Hoje, "Mystery of Illusion" é frequentemente lembrado como um clássico perdido — um daqueles álbuns que os conhecedores citam com brilho nos olhos. É uma obra que merece ser revisitada, redescoberta e reconhecida por sua importância na consolidação de um estilo que ainda ecoa em muitas bandas underground do metal atual. Se não fez história nas paradas, fez história nos corações de quem vive e respira heavy metal com devoção. E isso, no fim das contas, talvez seja sua maior glória.
O metal não rejeita necessariamente o Cristo como figura espiritual, mas sim o uso político e autoritário de seu nome.
O Heavy Metal, desde seu surgimento no início dos anos setenta, sempre foi associado ao obscuro, ao proibido, ao “antirreligioso”. Letras que mencionam demônios, símbolos ocultistas, cruzes invertidas e referências ao apocalipse fizeram com que o gênero fosse tachado de “satânico” por religiosos conservadores.
Já o Espiritismo surgiu no século XIX como uma filosofia que rejeita o Deus punitivo do cristianismo tradicional e propõe um Deus inclusivo, sem preconceitos ou julgamentos.
Com base nisso, será que o heavy metal não está mais alinhado com a doutrina apresentada por Allan Kardecdo que propriamente com o satanismo?
A rebeldia do metal é, em grande parte, uma reação à imagem tradicional de um Deus vingativo, severo e controlador — aquele que condena o pecador à danação eterna, que exige obediência cega e que é usado como justificativa para moralismos e autoritarismos religiosos. Esse Deus — criado mais por teólogos do que por Cristo — é o principal alvo da revolta artística do metal.
Nesse cenário, a figura de Satã é comumente usada não como objeto de adoração literal, mas como símbolo de oposição, de liberdade frente à opressão religiosa, de rebeldia contra dogmas sufocantes. Essa representação, embora chocante à primeira vista, é muito mais filosófica do que espiritual no sentido negativo.
Noruegueses do Mayhem.
Há casos — como na cena norueguesa dos anos 1990 — em que houve, sim, uma adesão simbólica ao satanismo. No entanto, mesmo nesses contextos, o que se propunha era mais uma filosofia niilista ou anticristã do que um culto literal ao diabo.
Grande parte do uso de símbolos "satânicos" ou "anticristãos" no metal não tem compromisso religioso real. Trata-se, muitas vezes, de uma reação estética e filosófica à hipocrisia moral e social promovida por certas instituições religiosas — especialmente aquelas ligadas ao cristianismo histórico.
Essa crítica encontra eco na doutrina espírita, que também se distancia do cristianismo tradicional ao rejeitar um Deus vingativo, o inferno eterno e a ideia de salvação por fé cega. O Espiritismo apresenta um Deus de amor, progresso e justiça, que concede ao ser humano liberdade de consciência e evolução moral. A doutrina codificada por Allan Kardec é, por si só, revolucionária em relação ao cristianismo romano. Ela rejeita o céu e o inferno como lugares físicos; não crê no diabo como entidade; vê a alma como em constante evolução; e valoriza a razão tanto quanto a fé.
Do ponto de vista espírita, o que se entende por “satanás” ou “espíritos do mal” são espíritos ainda ignorantes, ligados à matéria, que podem, sim, influenciar negativamente — mas não são figuras absolutas do mal.
Esses pontos coincidem, curiosamente, com os temas abordados por bandas que criticam o “deus tirano”, a hipocrisia religiosa e a negação da ciência. Em vez de “do mal”, o que o metal muitas vezes clama é por justiça, autonomia e verdade.
Portanto, a “rejeição ao cristianismo” no metal, na maioria das vezes, não se opõe à espiritualidade em si, mas a um sistema religioso que oprime, impõe medo e sufoca a individualidade — exatamente o que o Espiritismo também combate.
A culpa é do cristianismo romano? De certo modo, sim. A aversão ao cristianismo no metal é uma reação ao cristianismo institucionalizado: aquele que queimou bruxas, promoveu cruzadas, oprimiu mulheres e matou em nome de Deus. O metal apenas faz barulho sobre algo que a espiritualidade lúcida já denuncia há séculos: que religião sem amor e sem liberdade é prisão da alma.
Com base nisso, podemos concluir que os espíritas são pessoas de mente aberta e sem preconceitos, certo? Errado. Espíritas, independentemente do que diz a doutrina, são, antes de tudo, seres humanos passíveis de erros.
Casos recentes, como os shows de Madonna e Lady Gaga, trouxeram à tona uma face preocupante do movimento espiritualista atual. Muitos se apressaram em afirmar que esses eventos “abriram portais negativos” e que as artistas estavam “a serviço das trevas” (link de um dos videos aqui). Nada muito diferente do que igrejas pentecostais bradam sobre o axé e o funk. Mudou o discurso, mas o julgamento continuou o mesmo — agora com linguagem preconceituosa travestida de espiritual.
Em um episódio recente, um canal espiritualista no YouTube (video acima) afirmou que Ozzy Osbourne seria exilado da Terra após a morte, devido ao seu “estilo de vida degenerado” e sua “conexão com forças densas”. Ignora-se, nesse caso, que Ozzy se declara cristão há décadas, tem letras que abordam fé, culpa, dor espiritual e até apocalipse — sempre de forma simbólica, nunca incentivando o mal como valor.
Mais grave: ignora-se o princípio básico da doutrina espírita de que todos evoluímos com base em nossas ações e intenções — não em estética, musicalidade ou escolhas artísticas.
Essa postura moralista não é espírita. É apenas fanatismo com incenso — o mesmo que condena o corpo, a arte e a liberdade de expressão por medo de uma espiritualidade que não sabe dialogar com a complexidade humana. A espiritualidade que julga, condena artistas e vê o mal em toda forma de expressão artística não está mais conectada ao Alto — mas ao próprio orgulho espiritual, que Kardec tanto alertou.
Talvez esteja na hora de perceber que, entre espíritos e guitarras, a verdadeira vibração elevada está menos na aparência e mais na intenção.
De qualquer modo, em termos práticos, o Heavy Metal e o Espiritismo não estão em campos opostos. Ambos se rebelam contra visões dogmáticas, maniqueístas e limitantes. Os dois clamam, cada um à sua maneira, por autoconhecimento, consciência e liberdade de pensamento.
Talvez, num futuro próximo, vejamos mais metaleiros espíritas — e mais espíritas de mente aberta para entender que espiritualidade e contestação podem, sim, caminhar juntas.
Hoje, Ozzy Osbourne morreu. E com ele, algo dentro de mim também se foi.
Não apenas o vocalista do Black Sabbath, o "Príncipe das Trevas", o ícone — mas a voz que atravessou os anos mais turbulentos da minha vida e, sem dizer diretamente, me sussurrou: "Você não está sozinho."
Ozzy nunca foi meu ídolo absoluto. Não sou do tipo que colecionou tudo, que sabia cada data, cada letra de cor. Mas ele sempre esteve lá. Ele era parte constante da trilha sonora que embalou uma fase que, de verdade, me salvou. E, de alguma forma, ele também me salvou.
Na adolescência, eu era um enigma mal resolvido. Me sentia deslocado, estranho, como se tivesse sido deixado de lado num mundo que eu não entendia. Em casa, o afeto não era ausente, mas eu não sentia. O futuro, uma névoa espessa. Havia um aperto no peito que ninguém via — nem perguntava. Mas aí vinham os fins de semana. E vinham os amigos.
Nos reuníamos sem grandes planos, sem excessos, sem vícios. Não fumávamos, não bebíamos álcool. Só queríamos estar juntos, num espaço onde a gente pudesse ser quem era, sem explicações. E o que nos unia, mais do que qualquer coisa, era o heavy metal.
Aquilo não era só música. Era fuga. Era abrigo. Era nossa principal válvula de escape. Aqueles riffs distorcidos, os vocais carregados de dor e fúria, davam nome ao que a gente sentia e não sabia dizer. Transformavam o que era sufocante em algo suportável. E, por alguns instantes, nos faziam sentir vivos.
Ozzy fazia parte disso. Não era o centro, mas era base. Um dos pilares de tudo. Um dos pais daquele som que parecia entender melhor a gente do que qualquer adulto ao nosso redor. Quando ele cantava, era como se dissesse: “Tá tudo bem não se encaixar. Tá tudo bem ser esquisito, estar quebrado. Eu também estou.”
Lembro de ouvir “No More Tears”, “Mr. Crowley”, “Bark at the Moon”, e sentir um arrepio que misturava dor, consolo e alívio. Era como respirar fundo pela primeira vez depois de um dia inteiro segurando o ar.
Hoje, quando recebi a notícia da sua morte, foi como se todas aquelas memórias explodissem ao mesmo tempo. As noites com os amigos. As conversas confusas. Os olhos marejados. O medo do que viria depois. Mas, acima de tudo, veio a gratidão. Porque eu sei: se não fosse o metal — e se não fosse por caras como o Ozzy — talvez eu não estivesse aqui pra escrever isso.
A música me salvou.
E Ozzy, mesmo sem saber, fez parte disso.
Descanse em paz, velho.
E obrigado. Por ter sido trilha, abrigo, presença. Por ter feito parte da nossa fuga — e da nossa cura.
Este é um texto honesto de alguém que cresceu ouvindo heavy metal e que, por algum tempo, contribuiu com paixão para a divulgação e propagação do gênero. Não se trata de atacar nomes ou apontar dedos, mas de expor verdades incômodas que muitos preferem ignorar. E, se você se incomodar, talvez seja porque a carapuça, de fato, lhe serve.
Durante os anos em que apresentei o Heavy Nation no UOL, ao lado da Paula Baldassarri e da Fernanda Lira, vivi o que muitos considerariam um sonho: estar frente a frente com os ídolos, conversar com lendas da cena metal, frequentar bastidores e testemunhar de perto o que, para a maioria, permanece envolto em névoa e distorção.
Mas esse privilégio veio com um preço. A decepção não tarda a chegar quando a cortina desce e os holofotes se apagam. O que sobra, muitas vezes, é o ruído do ego, da arrogância e de comportamentos que desmontam a imagem que, por anos, a música ajudou a construir.
Não são poucos os artistas que, fora dos palcos e dos estúdios, revelam um comportamento que vai do ego inflado à completa falta de empatia. Pessoas que, com um microfone na mão, discursam sobre união, respeito e resistência, mas que, nos bastidores, agem como tiranos com seus colegas, desdenham os fãs ou carregam atitudes problemáticas que não combinam com a potência da arte que produzem.
Claro, conheço exceções. Músicos corretos, éticos, humildes. Gente generosa, coerente com o que canta. Mas são raros. A regra, infelizmente, é outra — e sustentada por uma cena que ainda prefere o mito à verdade, a nostalgia ao posicionamento.
Recentemente, essa percepção me bateu de novo, com força. Em uma conversa com um amigo, trocamos confidências e lembranças — e foi impossível não concluir: muitos dos artistas que moldaram nossas trajetórias são, fora dos palcos, pessoas que jamais respeitaríamos se não tivessem uma guitarra na mão ou um logo cultuado estampado no backdrop.
O mais doloroso é perceber como atitudes machistas, homofóbicas e, cada vez mais, fascistóides têm se tornado comuns entre músicos respeitados da cena. São figuras que, no palco, posam de rebeldes, mas, fora dele, endossam narrativas reacionárias, autoritárias e perigosamente alinhadas com o que há de mais podre na sociedade.
Também há os que usam a imprensa como arma. Recentemente, tivemos o caso de um músico veterano, muito respeitado na cena por sua história — e que eu também admirava —, utilizando uma entrevista para espalhar mentiras descaradas sobre outra banda. Ataques disfarçados de opinião sincera, insinuações plantadas com o objetivo claro de sabotar colegas e, claro, promover a própria imagem. A vaidade nesse meio é barulhenta — mais alta até que o volume dos amplificadores. E deu certo. A banda dele, que andava esquecida, voltou aos holofotes por causa dessa entrevista.
E é aí onde quero chegar. Fica difícil seguir ouvindo certas bandas cujos integrantes têm esse tipo de atitude. Os riffs continuam potentes. As letras, intactas. Mas algo se quebra. Porque não dá para dissociar a arte de quem a faz quando você já viu — ou ouviu — demais. Quando o mesmo sujeito que grita por liberdade no microfone compartilha fake news nas redes sociais, esconde assédio sob silêncio cúmplice ou sabota gente honesta nos bastidores.
Não se trata de exigir santidade. Todos erram. Mas há uma diferença entre tropeçar e cultivar o erro como método, entre ser humano e ser escroto. E quando isso fica claro, a mágica se esvai.
Hoje, ouço música de outro jeito. Com mais cuidado. Não basta soar bem — preciso saber quem está por trás daquele som. Às vezes, continuar fã à distância é uma forma de preservar a beleza. Em outros casos, é preciso simplesmente parar de ouvir. Porque há bandas que não cabem mais na minha playlist — e nem nos meus princípios.
O metal foi minha escola, minha religião, meu abrigo. E ainda pode ser esse lugar. Mas, para isso, precisamos deixar o barulho da distorção dar espaço à escuta crítica. Precisamos olhar para quem está no palco — e decidir se vale a pena continuar aplaudindo.
Após o aclamado lançamento de "Apollo", em 2017, a banda francesa de rock gótico SOROR DOLOROSA entrou em um hiato de quase oito anos — período marcado por rumores sobre um possível encerramento das atividades, alimentados por mudanças em sua formação. Mas em outubro de 2024, o grupo retornou com força total e apresentou "Mond", seu aguardado novo álbum, que reafirmou sua identidade sonora e prometeu cativar tanto os fãs antigos quanto novos ouvintes.
A formação atual reúne dois dos membros fundadores — o vocalista Andy Julia e o baixista Hervé Carles — ao lado dos guitarristas Jean-Baptiste Marquet e Xavier Pinel. Juntos, mantêm viva a essência do SOROR DOLOROSA, com a marcante bateria eletrônica sustentando a atmosfera densa e melancólica que caracteriza o som da banda.
Mixado e masterizado por James Kent (PERTURBATOR), "Mond" apresenta faixas que transitam com naturalidade entre toques eletrônicos, guitarras sonhadoras e um ritmo envolvente que evoca uma aura retrô — quase oitentista — sem abrir mão da autenticidade. O que se ouve aqui vem de um lugar genuíno, íntimo da essência do grupo, e isso transparece em cada faixa. A emoção é tangível, a ambientação sombria é cuidadosamente construída e a composição, meticulosamente elaborada. Com nove músicas, o álbum soa como se tivesse sido teletransportado diretamente de 1986 — no melhor dos sentidos.
Entre os destaques, estão a pulsante "Obsidian Museum", com seu baixo e batidas eletrônicas lúdicas; a engenhosa "Hurlevent", cuja atmosfera rarefeita e natureza catártica conferem profundidade emocional ao disco; e a emocional "Souls Collide", que remete à musicalidade mais introspectiva de "Apollo".
Nos últimos anos, muitas bandas fascinantes surgiram trazendo à tona influências do rock gótico tradicional. Nesse contexto, o SOROR DOLOROSA se destaca não apenas por ser fiel às raízes dos anos 80, mas por fazer isso com autenticidade, e o que a banda entrega em "Mond" está longe de ser uma simples homenagem: é uma criação genuína, com alma, substância e integridade artística.
É comum que discos lançados recentemente enfrentem dificuldades em figurar nas listas de melhores do ano. Mas "Horned Lord of the Thorned Castle" desafia essa lógica. Desde a primeira audição, revela-se uma obra de fôlego, técnica e inspiração — uma estreia que pode muito bem disputar o título de álbum do ano.
Formada em 2018, a banda finlandesa MOONLIGHT SORCERY pode não ter feito muito barulho nos primeiros anos de sua trajetória, com lançamentos restritos a EPs e singles. No entanto, com o aguardado álbum de estreia "Horned Lord of the Thorned Castle", o trio não apenas chama atenção, como redefine expectativas dentro do black metal melódico.
A proposta do grupo se destaca logo de cara: o som é furioso e atmosférico, mas surpreende com solos de guitarra neoclássicos — um elemento pouco explorado no gênero. Enquanto muitas bandas de black metal priorizam os tradicionais riffs com tremolo picking, o MOONLIGHT SORCERY ousa ir além, investindo em passagens técnicas e melódicas que evocam tanto a intensidade do estilo quanto a sofisticação do metal mais virtuoso.
A faixa de abertura, "To Withhold the Day", é um cartão de visitas potente. Remete inicialmente ao som grandioso de DIMMU BORGIR, mas logo se diferencia ao incorporar climas e teclados que remetem a CHILDREN OF BODOM. A combinação é inusitada: se o Bodom flertava com o power metal usando vocais extremos, o MOONLIGHT SORCERY faz o caminho inverso — parte do black metal melódico, mas não se furta a usar elementos do power com naturalidade. O resultado é um som cativante e técnico, com solos impressionantes que elevam a faixa a outro patamar.
A sequência mantém o nível. "In Coldest Embrace" aprofunda a atmosfera sombria com melodias marcantes, enquanto os teclados adicionam uma camada sinfônica eficaz e envolvente. A técnica dos músicos é evidente, mas jamais gratuita: cada elemento soma para construir uma identidade sonora única. Já "The Secret of Streaming Blood" encerra o trio inicial com agressividade, velocidade e mais uma dose generosa do excepcional trabalho de guitarras — talvez o maior diferencial da banda.
À medida que o álbum avança, uma característica se torna evidente: consistência. Do início ao fim, o grupo mantém uma assinatura sólida e bem definida, sem abrir mão da variedade. Faixas curtas como "Vihan verhon takaa" (com apenas três minutos) são tão impactantes quanto a longa e épica faixa de encerramento, que ultrapassa os oito minutos. Até mesmo o instrumental "The Moonlit Dance of the Twisted Jester's Blood-soaked Rituals" encontra seu lugar na narrativa sonora do disco, funcionando como uma ponte atmosférica essencial para a experiência completa.
O encerramento, por sinal, é digno de destaque. Trata-se de uma peça grandiosa, capaz de demonstrar todo o talento e ambição do Moonlight Sorcery — uma escolha acertada para fechar um álbum que, desde já, figura entre os grandes lançamentos do ano no metal extremo.
Com "Horned Lord of the Thorned Castle", o Moonlight Sorcery entrega um trabalho original, ousado e incrivelmente bem executado. Um álbum que promete marcar época e, quem sabe, inspirar outros a seguirem o mesmo caminho.
No mundo do metal, nada parece mais contraditório do que ter religião, mais especificamente o cristianismo. E, analisando ainda mais a fundo, nada poderia ser mais contraditório do que Black Metal com mensagens cristãs explicitamente declaradas. Se você compartilha o critério do Black Metal de Euronymous (isto é, apenas música pesada e satânica), então, o Black Metal cristão não pode existir. Muitas bandas realmente se sentem do mesmo jeito, e é por isso que optam por ser definidas como "unblack metal"; embora sejamos completamente honestos com nós mesmos, Christian Black Metal ainda é uma resposta correta.
Podem me acusar de não ser troo o suficiente, mas eu sempre senti que o black metal é definido pelo som e não tanto pela mensagem. Todos sabemos que este gênero tem características próprias, e que a música pesada e satânica existe sem necessariamente estar sob o rótulo de black metal. Pensar desta maneira me levou ao mundo do unblack metal e me permitiu entender e apreciar os objetivos dessas bandas. É algo intrigante um grupo de cristãos entrar numa cena musical criada com objetivos que especificamente incluem sua perseguição.
Então, para aqueles de vocês que não estão familiarizados com a cena do unblack e são um pouco curiosos, compilei uma lista de sete bandas de Christian Black Metal que você deveria conhecer. A cena de unblack metal é relativamente pequena, e se você deseja explorá-la ainda mais, provavelmente irá encontrar as mesmas bandas repetidas vezes. Dito isto, esta lista que eu compilei é apenas algumas das bandas mais notáveis que surgiram ao longo dos anos. Além disso, com a exceção da primeira banda, tenha em mente que esta não é uma lista classificada.
HORDE
Quando você fala de unblack metal, é impossível não mencionar a Horde de alguma maneira, pois trata-se do projeto solo de Jayson Sherlock, ex-baterista da banda australiana Mortification. Sherlock, que gostava de black metal, mas não gostava das mensagens, decidiu criar uma alternativa para pessoas que pensavam como ele. O resultado disso foi "Hellig Usvart" (tradução: algo próximo à 'holy unblack'/santo não obscuro).
Segundo o próprio Sherlock, ele não foi o primeiro músico a encabeçar um projeto de black metal cristão, mas certamente foi o primeiro a ficar conhecido. Tanto que, o projeto irritou muitos fãs de black metal ao ponto de Sherlock ser ameaçado de morte várias vezes.
Horde é, sem dúvida, o ponto de partida para um subgênero controverso dentro de um subgênero controverso.
Ouça “Release and Clothe The Virgin Sacrifice”
ANTESTOR
Enquanto Horde mostrou ao mundo que fazer unblack metal era possível, Antestor aperfeiçoou a arte. Eles são provavelmente a banda unblack mais notável, e provavelmente influenciaram todas as bandas unblack que vieram depois.
No início dos anos 90, Antestor começou como uma banda cristã de doom/thrash sob o nome de Crush Evil. O seu cristianismo era bem conhecido, e chamou atenção Papa Euronymous (Mayhem), que chegou a fazer algumas vagas ameaças ao grupo. No entanto, Crush Evil perseverou, mudou seu nome para Antestor, e também começou a escrever músicas diretamente ligadas á estrutura do black meta norueguês. Quando perguntado sobre sua fé enquanto tocava black metal, o vocalista Kjetil Molnes explicou que “Nós nos identificamos como black metal como um estilo de música, não black metal como uma ideologia ou crença.”
Antestor, sendo norueguês, aparentemente ainda tentam contornar os problemas com bandas e fãs de black metal. Eles até conseguiram que Jan Axel "Hellhammer" Blomberg tocasse bateria em dois de seus álbuns. Se isso não lhes der um pouco de credibilidade, então não tenho certeza do que poderia.
Assista ao videoclipe da música "Unchained"
CRIMSON MOONLIGHT
Crimson Moonlight tornou-se conhecido na cena unblack no início de 2000, na Suécia. Embora começando com um estilo mais sinfônico e ambiental, álbuns como "Veil of Remembrance" apresentaram uma mudança para influências mais death metal. Eles são definitivamente uma das mais pesadas bandas Unblack que eu já ouvi, e eles são uma grande banda de pop quando você está apenas à procura de algo um pouco brutal e um pouco dark, ao mesmo tempo.
Ouça "The Advent Of The Grim Hour"
FROSTHARDR
Frosthardr foi formado em 1997 na Noruega e entraram na cena apadrinhados pelo Antestor, pois o vocalista Jokull costumava trabalhar com a banda, e o baterista Savn na banda banda Vaakevandring. A marca Unblack de Frosthardr se baseia mais nas tendências cruas do punk e hardcore do black metal, embora álbuns como "Maktesløs" também exibam uma proeza para cordas orquestrais e outros efeitos atmosféricos.
Eles são uma das bandas mais populares do gênero e aparecem em vários documentários, especificamente para destacar o seu envolvimento, como cristãos, em um ambiente muito anticristão.
Ouça "Koma"
SLECHTVALK
Slechtvalk, além de unblack metal, possui também muitas influências folk metal. De um modo geral, eles são comumente identificados como uma banda de unblack e folk metal. Suas raízes estão mais atadas ao folk, além de incorporar nos shows ao vivo fantasias medievais e escrever músicas em torno de temas de guerra.
Atualmente sua música é menos sinfônica, mais rápida e brutal, o que faz com que a banda pareça um pouco mais predominantemente unblack. Muito parecido com outras bandas nesta lista, eles são muito proeminentes na cena unblack, assim como na de metal cristão em geral.
Ouça "Towards the Dawn"
SANCTIFICA
Sanctifica foi uma banda unblack com carreira curta, mas ainda muito memorável da Suécia. Seu primeiro grande lançamento, "Spirit of Purity", era um black metal com muitas influências thrash, mas o próximo e último lançamento, "Negativo B" apresentou um som mais experimental e progressivo.
Na verdade, é uma pena que a banda tenha acabado, pois eles tinham potencial para ser uma das melhores bandas de de metal cristão.
Ouça “Riket (The Empire)”
FROST LIKE ASHES
Frost Like Ashes será a única banda nesta lista a vir dos EUA. Eles incorporam muita teatralidade em seus shows, assim como as outras bandas nesta lista. Eles usam o corpse paint, roupas de couro cravado e rasgam no palco a bíblia satânica.
A banda americana ICON foi uma grande expressão do hard/heavy metal na primeira metade dos anos oitenta. O debut LP, autointitulado, foi lançado oficialmente em 07 de julho de 1984 (quase quarenta anos atrás!) e tinha todos os elementos necessários para se tornar um grande sucesso.
Visualmente, os músicos Stephen Clifford (vocal); Dan Wexler (guitarra); John Aquillino(guitarra), Tracy Wallach (baixo) e Pat Dixon (bateria) pareciam ser mais uma cópia fajuta do MOTLEY CRUE, mas certamente a banda não soava como eles. Musicalmente eram muito mais pesados e realmente entregaram alguns dos melhores discos de heavy metal já produzidos no Arizona naquela época; pois, embora não parecesse ser a próxima banda de hair metal de sucesso, eles realmente eram muito sérios sobre o que estavam fazendo.
Sobre o debut, eis algumas curiosidades:
- Mike Varney (renomado proprietário da Shrapnel Records) havia contratado a banda para sua gravadora, mas, após gravar o álbum e, percebendo seu grande potencial, decidiu “vendê-los” para a Capitol Records.
- O álbum foi gravado em 1984 e temos que perceber que, no mesmo ano, outros álbuns como “W.A.S.P.” (W.A.S.P), “Tooth and Nail” (DOKKEN) “Out from the Cellar” (RATT) e “Stay Hungry” (TWISTED SISTER) foram gravados, todos eles elevando rapidamente as bandas ao estrelato nos EUA.
- O som do álbum foi muito melhor do que a maioria das coisas gravadas na época, especialmente para um álbum de estreia (cortesia de Mike Varney).
- “Icon” tem muitos hits em potencial como “(Rock on) though the Night”, “On Your Feet” (assista ao vídeo no youtube), “World War”... ou a balada obrigatória “It's up to You ” (na verdade todas as músicas poderiam ter sido grandes hits na MTV ou VH1).
- E obviamente eles também contaram com um vocalista realmente bom como Stephen Dixon (alguém entre Don Dokken, Blackie Lawless e Jeff Martin), e um excelente time de guitarras formado por Dan Wexler e John Aquilino (Mike Varney jamais assinaria uma banda sem boas guitarras ).
Ok, alguns podem pensar que todos esses elementos não distinguem a banda dos milhares de projetos de heavy metal surgidos nos anos 80, mas novamente devemos pensar que este álbum foi gravado em 1984, antes da explosão da cena metal de L.A. alguns anos depois e quando algumas das grandes bandas americanas estavam lançando seus álbuns de estreia (veja os quatro citados acima).
Então, o que fez deste álbum parte de todas aquelas cestas de produtos dos anos oitenta?
Não é fácil dizer, mas só consigo pensar em uma combinação de azar, ser de Phoenix e não de L.A. e ter lançado um segundo álbum bem fraco ("Night of the Crime", de 1985) embora bastante elogiado por alguns seguidores do glam metal. De qualquer modo, o ICON nunca alcançou o sucesso esperado e como resultado foram demitidos da Capitol Records.
Em suma, posso recomendar profundamente “Icon” a todos aqueles que gostam de puro metal dos anos 80 (MALICE, GRIM REAPER, OBSESSION, LIZZY BORDEN) porque, se não conhecem a banda, estão a ignorar um dos melhores discos feitos naquela amada década.
Quando Solomon "Sully" Omar, de 23 anos, sentiu que a cena musical em sua cidade natal, Denver, não lhe proporcionava o que procurava, ele tomou uma atitude radical: mudou-se para Cabul, capital do Afeganistão, país devastado pela guerra de que seus pais fugiram décadas atrás.
“Eu vim aqui para continuar minha educação e ao mesmo tempo ver o que há na cena musical daqui e também trazer algumas das minhas habilidades à ela”, diz Omar.
Solomon "Sully" Omar se apresenta com a banda afegã de metal District Unknown no terceiro festival anual Sound Central Festival em Cabul.
Omar é membro do DISTRICT UNKNOWN, uma banda de metal cuja apresentação foi um dos destaques do recente Festival Sound Central de música e artes alternativas em Cabul. Mais de 30 bandas se apresentaram em quatro dias durante o terceiro evento anual.
E se você pode imaginar, o cenário de indução de suor do DISTRICT UNKNOWN teve centenas de espectadores afegãos em pé.
Omar diz que ficou agradavelmente surpreso ao encontrar uma cena musical de verdade quando chegou a Cabul.
"Eu esperava encontrar..." - ele faz uma pausa - "nada."
"Eu não sabia que existia uma cena metal e dub step", diz Omar. "Eu realmente não esperava que a música estivesse viva e respirando bem e saudável aqui no Afeganistão."
Omar, de 23 anos, nascido no Colorado diz que ficou agradavelmente surpreso com a vibrante cena musical que encontrou quando desembarcou em Cabul no ano passado.
O retorno da família ao Afeganistão
As raízes de Omar são afegãs. Ele nasceu e foi criado no Colorado, onde seus pais se estabeleceram depois de deixar o Afeganistão após a invasão soviética de 1979.
Depois que o Talibã foi retirado do poder em 2001, o pai de Omar voltou ao Afeganistão, onde agora trabalha para o Projeto de Educação Superior da Universidade de Massachusetts em Cabul. Sua mãe trabalha em Cabul aconselhando mulheres empresárias.
Seu irmão e sua irmã também se mudaram para o Afeganistão, e Omar foi o último da família a se reinstalar em Cabul.
Ele chegou em agosto passado e se tornou o tecladista, segundo guitarrista e backing vocal no DISTRICT UNKNOWN, após inicialmente ajudá-los a produzir algumas músicas.
Os pais de Omar compareceram ao Sound Central Festival, e foi a vida se fechando para a família. O pai de Omar - que ele descreve como um artista e ex-hippie - se apresentou no mesmo palco do Centro Cultural Francês nos anos 70.
"Meu pai é um grande defensor da minha carreira musical", diz Omar. "Ele quer que eu termine minha escola como primeira prioridade."
Omar está fazendo exatamente isso. Atualmente estudante da American University em Cabul, ele espera estudar produção de música eletrônica no Berklee College of Music em Boston.
Omar diz que é uma experiência diferente atuar diante de um público afegão.
“É uma mistura de pessoas que são grandes fãs de música e artes alternativas, e pessoas que são completamente novas nisso, e acho que é uma ótima mistura”, diz ele.
Embora tenha fãs em Cabul que apreciam o DISTRICT UNKNOWN e seu trabalho como DJ, ele recebe olhares estranhos das pessoas quando conta sua história.
“A maioria das pessoas que conto que vim para cá, afegãos, olham para mim do tipo: 'O quê? Por quê?' " ele diz.
Mas, pelo menos musicalmente falando, Omar foi capaz de encontrar o que procurava.
“Estou feliz aqui. Aqui está o que eu ansiava nos Estados Unidos como músico - encontrar uma cena musical próspera e virgem. Essa é a coisa mais incrível que eu poderia querer”, diz Omar. "Não está nas circunstâncias perfeitas, mas vou aceitá-lo."
Este artigo foi originalmente publicado em 2013 no site da NPR. Diante dos recentes acontecimentos no Afeganistão, opto por republicá-lo aqui no blog como forma de resgate e denúncia. O objetivo é lembrar que, apesar das inúmeras adversidades enfrentadas pelo país, o Afeganistão também abriga uma vibrante – ainda que silenciosa – comunidade de fãs de heavy metal. Jovens que encontram na música uma forma de resistência, identidade e liberdade.
Com a volta do autoritarismo religioso, é provável que esses indivíduos tenham suas liberdades ainda mais restringidas. Manifesto, aqui, minha solidariedade ao povo afegão e repúdio a qualquer regime que, sob o pretexto da fé, oprime, censura e atenta contra vidas humanas em nome de uma falsa divindade.
O selo Psywar começou as atividades como uma campanha pela derrubada do governo Bolsonaro. Foto: Fernanda Lira (Instragram).
Fonte: Assessoria de Imprensa
Fundado durante a pandemia da COVID-19 pelos irmãos Berman Berbert e Vinny Berbert, o selo Psywar começou as atividades como uma campanha pela derrubada do governo Bolsonaro.
A pauta principal, estampada na camisa réplica do Bad Religion, era "Fora Bolsonaro" - usada por grandes nomes da cena metal e rock no Brasil, como Fernanda Lira, da CRYPTA e Maurício Boka, do RATOS DE PORÃO. As atividades de panfletagem, apoio na organização de atos, e venda de material marcaram o início do selo. Além dessa campanha, a dupla encabeçou uma das poucas vozes que pediam a liberdade do ciberativista Julian Assange no Brasil, ajudando a levar o tema bem pouco falado às discussões na época e ganhando reconhecimento por algumas organizações internacionais empenhadas nessa causa. Atualmente, a Psywar está ativa nas mobilizações contra o genocídio em Gaza.
Os irmãos, fundadores da banda de hardcore punk MALVINA, tiveram a ideia de somar discos independentes aos materiais políticos, com um grande reforço do selo santista Caustic Records na época.
Bandas como MUKEKA DI RATO, MALVIA, SECT, ONE TRUE REASON e STRIFE estavam no catálogo do site e nas bancas em eventos. Posteriormente, outras bandas ganharam distribuição de material físico pela Psywar, como ANGVSTIA, TRASTE, UUZOMI, NISTE (Argentina), MLC (Argentina) e os finlandeses do GLASS WIPE, depois da turnê européia do Malvina em 2024.
A turnê europeia reforçou uma vontade já antiga dos irmãos, ao se depararem com a forma totalmente 'Do It Yourself' e organizada de fazer a cena rolar na Europa, a ideia de lançar bandas que o selo acredita, não só fisicamente, mas em todos meios de streaming, com uma divulgação bem planejada, ficou mais sólida, e dessa forma a Psywar começa a expandir mais sua atuação, com um trabalho de fomento e divulgação mais amplo do underground nacional.
O selo se prepara para lançar o novo álbum da banda mineira TRASTE
A primeira escolhida é a banda punk mineira Traste, que terá seu novo disco lançado pelo selo.
Os irmãos comentam: "Essa iniciativa é uma resposta à cultura hegemônica da classe dominante. Somos uma alternativa em meio a várias outras. Viemos somar forças e abrir mais caminhos para toda forma de ativismo e expressão artística, instigar o engajamento, conscientização, e por fim, reagir à violência do capitalismo".