Quando pensamos em death metal melódico, alguns
discos surgem imediatamente na memória: Heartwork,
dos ingleses do CARCASS; The Gallery, do DARK
TRANQUILLITY; The Jester Race, do IN
FLAMES. Cada um teve papel fundamental na consolidação do estilo.
Em termos de repercussão, talvez nenhum tenha
causado tanto impacto inicial quanto Heartwork
(1993). O choque não veio apenas da sonoridade mais limpa e melódica, mas
também da guinada lírica: uma banda até então conhecida por letras grotescas e
mórbidas, ligadas ao gore e à dissecação anatômica, de repente passou a
escrever canções de tom mais sério e crítico. Essa mudança radical ampliou o
alcance do CARCASS e provou que o death metal poderia explorar letras com crítica social e reflexão, sem perder intensidade.
Ainda assim, por mais importante que tenha sido, os suecos do AT THE GATES elevaram o death metal melódico a um novo patamar com Slaughter of the Soul, transformando o álbum em um marco definitivo da cena de Gotemburgo.
A banda sueca já
vinha chamando atenção na cena europeia, especialmente após o EP Terminal Spirit Disease (1994), mas foi com Slaughter of the Soul que alcançou uma
síntese explosiva: riffs velozes e cortantes, bateria incansável, vocais
raivosos de Tomas Lindberg e, sobretudo, guitarras que, embora mantivessem os riffs agressivos característicos do death metal sueco, também traziam melodias memoráveis, capazes de permanecer na mente do ouvinte.
O resultado agradou tanto os fãs mais
radicais do death metal quanto ouvintes acostumados a sonoridades menos
extremas. O impacto foi imediato, e o disco logo passou a ser reconhecido como
um divisor de águas do chamado “Gothenburg sound”, termo que batizou o estilo
que se firmava na cidade sueca.
Se Heartwork mostrou que era possível suavizar
as arestas do death metal sem perder peso, foram as bandas de Gotemburgo — AT
THE GATES, IN FLAMES e DARK TRANQUILLITY — que realmente deram forma ao death
metal melódico como gênero. Nesse trio, cada um desempenhou um papel
fundamental: o AT THE GATES apresentou a versão mais concisa e agressiva; o DARK
TRANQUILLITY apostou em atmosferas densas e vocais variando entre guturais e
limpos; e o IN FLAMES expandiu o lado melódico com harmonias quase herdadas do
heavy metal tradicional. Juntos, esses lançamentos meados dos anos 1990
consolidaram uma estética que, de tão marcante, logo se espalharia pelo mundo.
Gravado no Studio
Fredman, com produção de Fredrik Nordström, Slaughter
of the Soul contou ainda com a participação especial de Andy LaRocque
(King Diamond), que gravou um solo lendário na faixa “Cold”. Há relatos (não confirmados) de que LaRocque recebeu a fita com a base para o solo em velocidade errada e, mesmo assim, conseguiu compor e executar a parte com maestria. Esse detalhe curioso só reforça a aura quase mítica em torno de um álbum que parecia destinado a ser histórico desde sua concepção.
Lançado em novembro
de 1995, Slaughter of the Soul não
apenas consolidou o “Gothenburg sound”,
como também acabou se tornando o último registro do AT THE GATES por muitos
anos. Logo após a intensa turnê de divulgação, em 1996, a banda entrou em
hiato, alegando desgaste interno e divergências sobre o futuro. Alguns de seus
integrantes não ficaram parados: os irmãos Anders e Jonas Björler, junto do
baterista Adrian Erlandsson, fundaram o THE HAUNTED, banda que rapidamente
conquistou destaque no thrash/death moderno e manteve viva a herança de
agressividade deixada pelo AT THE GATES. Esse silêncio prolongado só reforçou o
status "cult" de Slaughter of the Soul,
que passou a ser visto como um “testamento” definitivo de uma era.
Foi apenas em 2007
que o AT THE GATES se reuniu para alguns shows comemorativos, e em 2014 veio o
tão aguardado retorno ao estúdio com At War
with Reality. A recepção foi positiva, assim como a de trabalhos seguintes
como To Drink from the Night Itself
(2018) e The Nightmare of Being (2021),
que mostraram uma banda madura e ainda criativa. No entanto, por mais
relevantes que tenham sido esses lançamentos, nenhum conseguiu igualar o
impacto cultural e musical de Slaughter of
the Soul, que segue intocado como o ápice da discografia e a obra que
definiu a identidade do AT THE GATES para sempre.
A história, no
entanto, ganhou um capítulo doloroso em setembro de 2025, quando a cena perdeu
Tomas Lindberg, voz e coração do AT THE GATES. Aos 52 anos, ele não era apenas
o frontman de uma das bandas mais
influentes do metal extremo, mas também um símbolo de paixão e entrega. Com seu
timbre raivoso e sua presença intensa no palco, Lindberg ajudou a transformar Slaughter of the Soul em um clássico eterno
e deu identidade a um estilo inteiro. Sua morte deixou um vazio imenso: para a
banda, que perde seu narrador visceral; para os fãs, que sempre encontraram em
suas letras a mistura de fúria e reflexão; e para toda uma cena que o
reconhecia como um dos maiores vocalistas do metal moderno. Mais do que um
músico, Lindberg era a alma inquieta do AT THE GATES — e sua ausência será
sentida sempre que soar o primeiro riff de “Blinded by Fear”.
Ao revisitar Slaughter of the Soul hoje, é impossível não
perceber como esse álbum simboliza tanto o auge criativo de uma cena quanto o
legado duradouro de um artista que se tornou voz de uma geração. O disco não
apenas ajudou a inventar o death metal melódico tal como o conhecemos, como
continua a inspirar músicos e ouvintes a buscar, no equilíbrio entre brutalidade
e melodia, uma forma de expressão intensa, direta e atemporal.
Antes mesmo da banda austríaca de power metal popularizar o nome SERENITY, nos anos 2000, existiu no Reino Unido um grupo homônimo que deixou sua marca discreta, mas sólida, no cenário do doom europeu. Formado em 1994, na cidade de Bradford, West Yorkshire, o Serenity britânico nasceu a partir de músicos ligados ao SOLSTICE, banda inglesa de doom/epic metal, e também de projetos que mais tarde dariam origem ao KHANG.
A primeira aparição oficial veio ainda no verão de 1994, com uma demo-tape de três faixas (Black Tears, Then Came Silence e Spirituality), gravada no Inner City Studio. A fita, hoje considerada item raro de colecionador, circulou em pelo menos três versões de capa, incluindo edições em papel vermelho, e já mostrava a ambição da banda de se destacar no underground europeu. A demo chamou a atenção da gravadora francesa Holy Records, que rapidamente ofereceu ao quinteto a oportunidade de gravar um álbum completo.
O resultado foi Then Came Silence, lançado em 1995. Gravado no Engine Room Studio de Bradford, o disco revelava uma banda já madura para os padrões do underground: riffs pesados, arranjos épicos e uma atmosfera melancólica que lembrava MY DYING BRIDE e CANDLEMASS. A abertura com Black Tears dá o tom do álbum, combinando riffs densos com os vocais limpos e marcantes de Daniel Savage. A faixa-título é outro ponto alto, alternando momentos de opressão sombria com passagens mais dinâmicas, mostrando a capacidade da banda de variar o ritmo sem perder a coesão. Mesmo assim, o Serenity sabia surpreender: a curta One for the Red Sky trazia energia direta e veloz, quase destoando do clima doom, enquanto I Am With You, com mais de oito minutos, mergulhava profundamente em atmosferas arrastadas e sombrias.
A recepção foi positiva dentro do underground. Then Came Silence recebeu 17/20 no site Spirit of Metal, e faixas da banda apareceram em compilações da Holy Records, como The Holy Bible 1 (1996), com a inédita Skin of the Soul. Em pouco tempo, o Serenity havia conquistado um espaço respeitável, ainda que restrito, na cena europeia.
Em 1996, a banda retornou ao estúdio para registrar Breathing Demons, seu segundo e último álbum. Mais pesado, voltado ao death-doom e ao gothic doom, o disco dividiu opiniões: recebeu apenas 12/20 no Spirit of Metal e não alcançou a mesma repercussão do debut. Pouco depois, sem anúncios formais ou turnês expressivas, o SERENITY entrou em silêncio, sendo oficialmente considerado inativo apenas em 1997.
O legado, entretanto, não se perdeu. Alguns ex-membros fundaram o KHANG (1998-2004), que posteriormente originou o LAZARUS BLACKSTAR, voltado ao sludge/doom. Apesar de pesados e consistentes, esses projetos nunca atingiram a aura épica e atmosférica que marcou o Serenity nos anos 90.
Hoje, o SERENITY permanece como uma banda que merece ser redescoberta pelos fãs do gênero. Seu nome ressurge sempre que se revisita a história de um estilo que fez da melancolia e da densidade sonora sua principal linguagem — e que, no caso desta banda de Bradford, encontrou uma de suas expressões mais autênticas e obscuras.
O AMEN CORNER surgiu
envolto em polêmica. Logo no início da carreira, uma entrevista concedida à
revista Rock
Brigade incendiou a cena: o vocalista Paulista — hoje conhecido
como Sucoth Benoth — declarou abertamente sua adesão ao satanismo e disparou
que o thrash
metal era “coisa de boy”. A alfinetada não foi gratuita. O alvo,
como muitos entenderam, eram bandas como PANTERA e SEPULTURA, que na época já
haviam conquistado um público mais amplo, distante da essência underground do
metal.
A
partir dali, escrevia-se uma nova página do black metal
brasileiro. E o AMEN CORNER foi, sem dúvida, um dos grandes responsáveis por
popularizar o estilo no país. Se antes quase não se ouvia falar de bandas do
gênero, pouco tempo depois o cenário se transformaria.
Em
1993 a banda lançou seu debut: Fall,
Ascension, Domination. Um álbum que, para mim, permanece
insuperável. Confesso que, na primeira audição, não gostei. A produção me soou
estranha, e o vocal, cheio de efeitos, parecia baixo demais na mixagem. Mas
logo depois me vi completamente viciado.
Fall, Ascension, Domination não é apenas o primeiro registro do AMEN CORNER — é um manifesto. O álbum combina agressividade extrema com claras influências de doom metal, criando uma atmosfera própria, intensa e abrasileirada, distante da frieza do black metal norueguês. A produção é crua, mas mantém clareza: as guitarras cortam como lâminas, a bateria soa ríspida, e a voz de Paulista é um grito de guerra contra qualquer resquício de luz.
Essa fusão de peso, melancolia e densidade era, aliás, uma característica marcante do black metal brasileiro da época: músicas carregadas de atmosfera sombria e introspectiva, que conviviam com a agressividade típica do estilo. Para mim, essa combinação de brutalidade e lirismo sombrio foi o que deu ao AMEN CORNER — e a muitas bandas do cenário nacional — uma identidade própria e inconfundível.
O
disco abre com riffs intensos e compassos diretos, sem espaço para
contemplação. Faixas como “On the Throne with Lucifer” e“Heir
of Lust, Heir of Pleasure” (que me impactaram profundamente)
são exemplos de como o AMEN CORNER soube equilibrar agressividade, rispidez e
atmosfera. Não era só barulho: havia construção, havia intenção. Ouvir o álbum
inteiro era atravessar um ritual — sombrio, extremo e fascinante.
Para
quem viveu aquele momento, o disco significava muito mais do que música: era
uma senha de pertencimento. Ter Fall, Ascension, Domination
na coleção era como carregar um brasão, um atestado de que você realmente fazia
parte do underground.
Amen Corner no lendário "Passport to Hell" (1994). Foto: Facebook
Eu
fui um desses fãs de carteirinha. Escutava o álbum sem parar, decorava cada
letra, vivia aquela música como um evangelho sombrio. Até que veio o batismo
real: o show em Bauru/SP, no festival Passport to Hell. Eu
tinha apenas 16 anos e nunca havia pisado em um evento underground de death e
black metal. Aquilo foi o paraíso. O público era exatamente como eu sonhava:
cabelos longos, roupas pretas, camisetas de bandas obscuras que não eram do mainstream.
Tive
a chance de conhecer os músicos e até me senti importante quando um dos
guitarristas me convidou para tomar uma cerveja no bar. Eu só pensava: “ninguém
vai acreditar quando eu contar isso”. Guardo até hoje a lembrança de quando
ofereci um copo de vinho a Tito — hoje rebatizado como Murmúrio. Ele recusou,
berrando que “não tomava sangue de Cristo!”. Rimos. No geral, todos foram
simpáticos e acessíveis. Com exceção do vocalista Paulista, que mal levantava
os olhos para falar duas ou três palavras. Na época, achei-o um mala sem alça.
Talvez a evidência em que a banda se encontrava tivesse subido à cabeça. Curiosamente, anos depois, quando o entrevistei no meu saudoso Heavy
Nation, encontrei um sujeito bem mais simpático.
Aquela noite ficou
marcada. Se pudesse, voltaria no tempo para reviver tudo. Porque o metal
daquela época ainda era cru, intenso, sem as diluições que viriam depois. Não
havia new
metal, não havia emocore. E a Galeria
do Rock fervilhava de lojas de discos e headbangers, não dessa mistura de estilos que
hoje ocupa o espaço. Era um outro mundo, e o AMEN CORNER estava no centro dele.
Que fique claro: não
tenho nada contra new metal ou emocore.
Só que, para mim, eles não tinham a ver com aquele universo específico em que
eu estava mergulhado.
Enquanto muitas bandas veteranas de metal extremo insistem em retornos pouco inspirados, a cena underground vê nascer diversos grupos jovens — mas poucos conseguem capturar a essência do death metal clássico. Na Califórnia, porém, há uma banda determinada a manter vivo o espírito noventista do gênero: o MORFIN.
O quarteto estreou em 2014 com Inoculation, um álbum que já mostrava maturidade surpreendente para uma banda tão jovem. Com Jesus Romero (vocais/guitarra), Pedro Gonzales (guitarra), Michael González (baixo) e Miguel Hernándes (bateria), o grupo entregava riffs densos e melodias que remetiam diretamente ao espírito da velha escola, estabelecendo a identidade sonora do MORFIN. A produção de Inoculation é satisfatória para um disco de estreia underground: embora não seja brilhante, consegue transmitir o peso das guitarras e a força da bateria de maneira convincente, permitindo que as composições se destaquem.
Em 2017, o MORFIN lançou seu segundo álbum, Consumed by Evil. Da formação original, permaneceram o baixista Michael González e o vocalista/guitarrista Jesus Romero (creditado no disco como Chucho Mairen). Para completar o time, entraram Eduardo Andrade na bateria e Mike De La O na guitarra. O álbum se destaca não apenas pela fidelidade ao estilo noventista, mas também pelo futuro promissor que os novos integrantes encontrariam dentro do death metal. Pouco depois, Mike De La O passou a integrar o SKELETAL REMAINS, ajudando a consolidar a identidade sonora da banda, enquanto Eduardo Andrade também teve passagem registrada pelo grupo. Dessa forma, o MORFIN acabou servindo como ponto de partida para músicos que mais tarde alcançariam maior projeção internacional, o que reforça o valor histórico de Consumed by Evil.
Musicalmente, Consumed by Evil amplia as ideias de Inoculation, com composições mais refinadas e complexas. A primeira impressão ao ouvir o disco é quase cinematográfica: como se o lendário Chuck Schuldiner tivesse deixado algumas composições inéditas de Leprosy guardadas em um cofre, apenas para que fossem reveladas agora. A voz de Chucho Mairena evoca a agressividade e a entonação de Chuck, enquanto as guitarras exploram melodias que lembram uma fusão entre Spiritual Healing e Leprosy, com toques do peso sombrio do OBITUARY.
A faixa de abertura “Reincarnated” mostra riffs cortantes, estruturas bem costuradas e energia que remete diretamente ao auge da velha escola. Músicas como “Slowly Dismembered” e “Illusions of Horror” continuam a linha da velha escola, enquanto “Posthumous” poderia facilmente ter sido parte de uma demo de pré-produção de Human, evidenciando o profundo respeito pelo legado do DEATH. Comparado ao GRUESOME, outro revivalista da cena, o MORFIN soa mais natural, maduro e espontâneo.
Lineup de "Inoculation".
O que impressiona nos dois discos é a maturidade alcançada pelos músicos, mesmo tão jovens. Eles conseguem capturar a essência da época sem cair em mera imitação. No entanto, há uma diferença importante na produção: enquanto Inoculation consegue transmitir o peso necessário para as composições, Consumed by Evil sofre com uma gravação realmente fraca, que mais parece uma demo lançada como álbum. As guitarras perdem densidade, a bateria não soa contundente, e o conjunto geral carece de clareza e impacto, prejudicando o potencial do disco de alcançar maior destaque na mídia especializada.
Ainda assim, essa crueza sonora pode ser interpretada como charme adicional para fãs que buscam reviver o clima do underground da época. No fim das contas, Inoculation e Consumed by Evil são essenciais tanto para veteranos nostálgicos quanto para jovens headbangers que desejam experimentar a brutalidade e a atmosfera que moldaram o death metal no início dos anos 90.
Quando se fala nos grandes nomes do death metal da Flórida do início dos anos 90, é quase automático pensar em DEATH, MORBID ANGEL, OBITUARY e DEICIDE. Mas, nessa mesma cena efervescente, surgia também o MONSTROSITY, banda que entregou um debut tão poderoso quanto subestimado: Imperial Doom.
Lançado em 26 de maio de 1992 pela Nuclear Blast, Imperial Doom deixou sua assinatura indelével no death metal técnico da Flórida. A formação era afiada: Lee Harrison (bateria), George “Corpsegrinder” Fisher (vocal), Jason Gobel (guitarra), Jon Rubin (guitarra) e Mark Van Erp (baixo). Com riffs brutais e precisão cirúrgica na base rítmica, o álbum mostrou que o MONSTROSITY poderia rivalizar com os gigantes da cena, ainda que o sucesso comercial nunca tenha realmente chegado.
A produção, porém, é um ponto controverso. O álbum foi gravado no renomado Morrisound Studios, e era para ter sido produzido pelo popular Scott Burns. Como Burns estava com a agenda cheia, a responsabilidade caiu nas mãos de Jim Morris, mais habituado a trabalhar com bandas de heavy metal tradicional do que com o death metal extremo. Apesar da clareza do som, que permite distinguir cada instrumento, o baterista Lee Harrison sempre demonstrou insatisfação com a mixagem, alegando que a bateria ficou alta demais e as guitarras, baixas e sem peso; como ele mesmo revelou em entrevista ao canal Heavy Culture em 2022: “Eu gosto das músicas, mas na época éramos muito jovens e estúpidos, então não posso culpar ninguém pela produção ruim”, declarou.
Talvez o fato do produtor Jim Morris nunca ter trabalhado antes com um grupo de death metal explique, em parte, o resultado não satisfatório de Imperial Doom – curiosamente, alguns anos depois, o mesmo Jim Morris assinaria a produção de Symbolic (1995), do DEATH, amplamente considerado o álbum mais bem produzido da banda.
Mesmo assim, músicas como a faixa-título, “Ceremonial Void”, “Definitive Inquisition”, "Burden of Evil" e "Final Cremation" (que ganhou um videoclipe) se tornaram cultuadas no underground, marcando também a estreia de George Fisher, que anos depois assumiria os vocais do CANNIBAL CORPSE.
A capa de Imperial Doom, assinada por Dan Seagrave, também merece destaque. O artista britânico criou aqui uma paisagem sombria e monumental, repleta de ruínas ciclópicas e figuras arquitetônicas que remetem à decadência de civilizações inteiras. A escolha visual traduz perfeitamente o conceito de “imperial” e de “ruína” presente no título: uma metáfora visual para a queda inevitável de qualquer poder terreno diante da brutalidade e da morte. Assim como a música, a arte mistura grandiosidade e devastação, tornando o disco imediatamente reconhecível na prateleira e reforçando seu caráter épico dentro do underground.
Durante a divulgação no Brasil, em entrevista à revista Rock Brigade, Fisher chegou a afirmar que Imperial Doom era um disco de “matar Deus”. No mesmo instante, ele se corrigiu, esclarecendo que se tratava apenas de uma metáfora e que não tinha nada contra a fé ou um Deus espiritual.
No país, o álbum ganhou status cult entre os deathbangers. Licenciado pela Rock Brigade Records, distribuído pela Devil Discos e prensado pela BMG Ariola, tornou-se uma relíquia disputada entre colecionadores. Nos círculos underground, é lembrado como um tesouro difícil de encontrar, já que muitas cópias circulam apenas em forma de bootlegs caros.
Comentários de fãs e críticos reforçam sua relevância. Alguns destacam a densidade técnica e a mistura de brutalidade com complexidade, enquanto outros lembram que a produção, embora “polida”, não tira a força das composições. Sites como Metal Archives, Metal Academy e Sputnikmusic consideram Imperial Doom um registro essencial do death metal técnico, muitas vezes colocado entre os melhores trabalhos da banda.
Apesar da qualidade, o álbum não teve a mesma projeção internacional de contemporâneos como Cannibal Corpse ou Morbid Angel. A turnê de divulgação sofreu cortes, e a banda não alcançou o mesmo espaço em clipes ou na mídia especializada.
Depois de sua primeira tiragem em 1992 e alguns repressings até 1997, Imperial Doom nunca mais recebeu relançamento oficial. Apenas cópias piratas surgiram no Leste Europeu por volta de 2015. As razões exatas nunca foram confirmadas, mas há fortes indícios de questões contratuais e de direitos autorais com a Nuclear Blast. A ausência de edições atuais em CD ou vinil oficial transformou o álbum em item de colecionador, com preços altos em sites como Discogs e eBay.
Esse “desaparecimento” do catálogo oficial só aumentou o status cult de Imperial Doom, tornando-o uma joia rara dentro da história do death metal. Passados mais de trinta anos, o disco segue essencial para compreender a cena da Flórida: brutal, técnico e sem concessões. É uma obra que divide opiniões sobre produção, mas que representa como poucas o espírito de uma época em que o death metal florescia em sua forma mais pura e impiedosa.
Da esq. p/ dir.: Gene Hoglan, Kelly Conlon, Chuck Schuldiner e Bobby Koelble.
Em março de 1995, o DEATH lançava Symbolic, seu sexto álbum de estúdio, um disco que, três décadas depois, continua sendo celebrado como um dos pontos mais altos de sua carreira. Para entender a importância desse trabalho, é preciso revisitar a trajetória da banda até então.
O DEATH nunca foi uma banda comum dentro do estilo que ajudou a moldar. O diferencial estava na inquietação criativa de Chuck Schuldiner, que se recusava a repetir fórmulas. A cada álbum, o grupo não apenas mudava de formação, mas também de pele: evoluía, surpreendia e se reinventava, mantendo um brilho singular em sua trajetória. Scream Bloody Gore (1987), por exemplo, era pura brutalidade — talvez o disco mais sangrento e visceral de seu ano, como se escorresse sangue do toca-discos. Já Leprosy (1988) trouxe mais técnica, mas sem abandonar a crueza e a agressividade que sustentavam o som da banda. Em Spiritual Healing (1990), a brutalidade cedia espaço a composições mais elaboradas, riffs bem trabalhados e solos memoráveis — basta lembrar do dueto em “Low Life”, uma das joias do álbum.
Lineup de "Human", em 1992.
A verdadeira guinada, no entanto, veio com Human (1992). Para esse disco, Chuck recrutou músicos de ponta: Steve DiGiorgio (SADUS) no baixo e a dupla Paul Masvidal e Sean Reinert (ambos do CYNIC) na guitarra e bateria, respectivamente. O resultado foi um álbum complexo, técnico e ousado, que exigia várias audições para ser absorvido, mas que acabou se tornando um clássico, com músicas como “Secret Face” e, claro, “Lack of Comprehension”. No ano seguinte, Individual Thought Patterns (1993) levou a ousadia ainda mais longe. Com Andy LaRocque (King Diamond) na guitarra, Steve DiGiorgio no baixo e Gene Hoglan (DARK ANGEL) na bateria, o disco soava técnico e agressivo, mas também carregado de feeling. Faixas como "The Philosopher", “Trapped in a Corner” e “Jealousy” ainda hoje figuram entre as favoritas dos fãs.
Foi nesse contexto que nasceu Symbolic. Gravado ao longo de seis semanas no estúdio Morrisound Recording, em Tampa, Flórida, o disco contou com a produção de Jim Morris — em parceria com o próprio Schuldiner — e trouxe mais uma mudança de formação. Gene Hoglan permaneceu na bateria, mas agora acompanhado por Kelly Conlon no baixo e Bobby Koelble na guitarra. Essa renovação deu frescor ao som e abriu caminho para novas experimentações.
Musicalmente, Symbolic soava diferente de tudo o que a banda havia feito antes. Havia ali a brutalidade do death metal, mas mesclada com melodias envolventes, riffs inspirados pelo metal tradicional e passagens que flertavam com o progressivo. A voz de Chuck, menos gutural e mais rasgada, consolidava uma assinatura única, enquanto a bateria de Hoglan oferecia uma precisão quase cirúrgica. O resultado foi uma produção cristalina e poderosa, talvez a melhor de toda a carreira do Death, valorizando cada detalhe das composições.
As letras também marcavam um novo patamar de profundidade. Schuldiner deixava de lado os temas macabros da juventude para mergulhar em reflexões existenciais, críticas sociais e questões filosóficas. “Symbolic”, a faixa-título, fala sobre memórias da infância e a passagem do tempo; “Empty Words” questiona a falta de substância em discursos superficiais; “Crystal Mountain” critica o dogmatismo religioso. Havia, no disco, uma atmosfera introspectiva e humana, que tornava a experiência tão emocional quanto brutal.
A recepção, na época, foi mista. Parte dos fãs mais ligados ao death metal mais cru estranhou o direcionamento mais melódico e progressivo, mas a crítica especializada não poupou elogios. Com o tempo, Symbolic se consolidou não apenas como um dos melhores álbuns do Death, mas como um marco do gênero. Hoje, é considerado por muitos o ponto alto da carreira de Schuldiner, pela maneira como equilibrou técnica, peso e sentimento.
Chuck Schuldiner (direita) com Gene Hoglan.
Os bastidores também reservam curiosidades. Chuck gravou demos em 8-track para experimentar com sobreposição de guitarras e arranjos antes de entrar em estúdio, algo que ele não havia feito com a mesma sofisticação antes. Já a capa, criada por René Miville — que também assinou as de Human e Individual Thought Patterns —, tornou-se icônica, a ponto de sua arte original ter sido leiloada anos depois por mais de dez mil dólares.
Apesar do sucesso artístico, a relação de Schuldiner com a gravadora Roadrunner já estava desgastada. Durante a turnê de Symbolic, ele manifestava o desejo de seguir em frente com um novo projeto, o CONTROL DENIED, onde poderia explorar ainda mais sua veia progressiva e suas letras introspectivas. Symbolic, nesse sentido, foi uma ponte para essa nova fase criativa.
Em 1998, Chuck Schuldiner lançaria The Sound of Perseverance, o último álbum do DEATH, considerado por muitos como a síntese final de sua genialidade. Ali, o lado progressivo se tornava ainda mais evidente, e a intensidade emocional das composições mostrava que Chuck nunca deixou de evoluir artisticamente - mas essa é outra história.
Mesmo após trinta anos, Symbolic continua atual e inspirador. Seu legado se reflete em bandas que transitam do progressivo ao extremo, e sua influência é percebida em qualquer projeto que busque equilibrar técnica, peso e emoção. Mais do que um disco de death metal, Symbolic é uma obra atemporal, um retrato da genialidade de Chuck Schuldiner e, no melhor sentido da palavra, um verdadeiro símbolo da capacidade da música extrema de transcender rótulos.
As camadas ocultas de Symbolic: um mergulho em suas músicas
“Symbolic” – A faixa-título abre o disco de forma grandiosa. O riff inicial é direto, mas logo se desdobra em melodias cheias de emoção. A letra é uma das mais conhecidas de Chuck, falando sobre a infância e o peso das memórias. É, de cara, uma das melhores sínteses do que o álbum representa: brutalidade e sensibilidade caminhando juntas.
“Zero Tolerance” – Aqui, o peso predomina. A bateria de Gene Hoglan se destaca com precisão cirúrgica, e a letra traz um posicionamento firme contra a hipocrisia e o fanatismo. É uma das faixas mais agressivas do álbum, lembrando aos fãs que o Death ainda mantinha suas raízes extremas.
“Empty Words” – Um dos momentos mais memoráveis. Os riffs melódicos são quase hipnóticos, enquanto Schuldiner vocifera contra a superficialidade da comunicação. O refrão, repetindo “Empty words!”, gruda na mente e mostra como a banda conseguiu criar algo acessível sem perder intensidade.
“Sacred Serenity” – Uma canção carregada de atmosfera, com linhas de guitarra quase contemplativas. A temática aborda paz espiritual, mas sem romantismo barato, sempre com a crítica típica de Chuck. É uma das músicas onde a produção cristalina de Jim Morris brilha mais, dando espaço para cada instrumento respirar.
“1,000 Eyes” – A paranoia é o fio condutor dessa faixa, que fala sobre vigilância e controle — temas que se tornaram ainda mais atuais décadas depois. Musicalmente, ela é complexa, cheia de quebras e mudanças de andamento, mostrando a faceta progressiva da banda.
“Without Judgement” – Uma das mais filosóficas do disco. Chuck reflete sobre preconceito e intolerância, clamando por empatia. O instrumental segue a mesma linha: riffs intrincados, mas carregados de emoção. É uma das faixas que mais evidenciam a maturidade lírica e musical alcançada pelo Death nessa fase.
“Crystal Mountain” – Talvez a faixa mais icônica do álbum. Com riffs marcantes e refrão memorável, é uma crítica afiada ao dogmatismo religioso. Não por acaso, tornou-se presença constante nos setlists e é, até hoje, uma das músicas mais lembradas do Death. Musicalmente, é perfeita: pesada, melódica e complexa na medida certa.
“Misanthrope” – Mais direta e agressiva, essa canção retoma um pouco da crueza dos discos anteriores. A letra fala sobre desprezo pela humanidade, mas com a profundidade reflexiva que Schuldiner imprimia até mesmo em temas tradicionalmente sombrios.
“Perennial Quest” – O encerramento do álbum é épico. A faixa mais longa do disco, com quase nove minutos, alterna momentos pesados e melódicos em uma jornada que resume bem a proposta de Symbolic. A letra fala sobre a busca eterna por sentido, um tema que acompanharia Chuck até seus últimos trabalhos.
No início
dos anos 1990, a cena do death metal estava efervescente. A Suécia e a Flórida
dominavam o gênero, mas até mesmo em países onde o metal extremo não tinha
tanta tradição começaram a surgir nomes marcantes. Foi nesse contexto que, em
1993, na cidade de Termoli (Molise, Itália), nasceu o MALEFICARUM, banda que
buscava imprimir sua própria visão sombria e técnica dentro do estilo.
Enquanto
boa parte do death metal daquele período pendia para o sueco melódico ou para o
brutal norte-americano, o MALEFICARUM trilhou um caminho diferente. Com uma
proposta voltada ao ocultismo, a banda soava orgânica, carregada de atmosfera e
com um quê de tragicidade tipicamente mediterrânea, que misturava riffs densos,
técnicos e soturnos.
A estreia
veio com a demo Unblessed (1993), hoje cultuada como um dos registros
mais obscuros da cena italiana. Ainda que crua, ela já deixava claro o
interesse do grupo por uma sonoridade que não se encaixava facilmente em
rótulos. As guitarras traziam riffs encorpados, com passagens arrastadas e um
senso de melodia dissonante que remetia mais ao peso soturno do doom/death do
que ao virtuosismo veloz que dominava a época. O vocal de Andrea Zanetti se
destacava pelo timbre cavernoso, carregado de reverberação, acentuando a
sensação de claustrofobia. A produção limitada, longe de ser um defeito,
contribuía para a aura ritualística que se tornaria marca registrada da banda.
Dois anos
depois, o MALEFICARUM lançou seu primeiro álbum completo, Across the Heavens
(1995), onde a evolução foi nítida. O som ganhou estrutura mais elaborada, sem
perder a densidade obscura da demo. Aqui, a influência do doom metal se faz
ainda mais presente: riffs arrastados se entrelaçam a construções técnicas,
criando um clima de peso e tensão permanente. Em vez de melodias heroicas ou
luminosas típicas do death metal melódico escandinavo, o disco se apoia em
linhas secas, tensas e sufocantes, reforçando um fatalismo sombrio.
O ponto alto do disco é “Time I Am”, faixa que sintetiza bem a proposta da
banda: uma bela fusão entre a primeira fase do AT THE GATES e a sofisticação
técnica que remetia ao Death. Ainda assim, o MALEFICARUM não soava como cópia —
havia ali uma aura mais obscura e intimista, quase litúrgica, que conferia à
música uma identidade própria.
Outro momento marcante é “The Raping of Life”,
em que o vocal gutural de Andrea Zanetti contrasta com intervenções femininas,
criando uma sensação perturbadora e dramática. O recurso, longe de soar
“gótico” no sentido popular do termo, reforça o caráter sacrílego e
desesperador da música.
Apesar das críticas à produção — especialmente
ao som da bateria, excessivamente seco e “clicky” — Across the Heavens sobrevive ao tempo pelo que realmente
importa: suas composições. O disco transmite uma sensação ritualística única,
como se cada faixa fosse parte de uma liturgia profana. O Maleficarum, aqui,
conseguiu traduzir em música o peso da escuridão mediterrânea, um fatalismo que
o diferencia dos demais polos do death metal dos anos 90.
Se Across the Heavens foi a consolidação de uma identidade sonora única, Under the Cross representou o ápice da maturidade artística do MALEFICARUM. Lançado em 2002, o disco aprofunda ainda mais a estética ritualística da banda, com composições densas, arranjos mais sofisticados e uma produção que, embora ainda crua, favorece a atmosfera opressiva e introspectiva.
As guitarras ganham contornos mais dissonantes e angulares, evocando um desespero quase litúrgico. Faixas como “Always Suffering” — com direito a teclado que remete a órgãos medievais — e “De Vermis Mysteriis” revelam uma banda que não apenas dominava os elementos do death/doom, mas os moldava com personalidade e propósito. Em Under the Cross, o Maleficarum não buscava agradar ou seguir tendências: sua música era um rito de passagem sombrio, uma descida consciente aos abismos da alma mediterrânea.
Infelizmente a banda não teve vida longa, encerrando atividades logo em seguida. Mas toda sua discografia permaneceu como registros de uma ousadia que escapava dos clichês da época. Enquanto muitos buscavam soar suecos, americanos ou poloneses, o MALEFICARUM trilhou um caminho próprio: death metal técnico, mas carregado de atmosferas obscuras, melódicas e quase ritualísticas, com uma assinatura que não se confunde com a de outros nomes.
Hoje, com os relançamentos feitos pela Despise the Sun Records, a obra do grupo pode ser revisitada e ganha novo reconhecimento no underground. Para quem procura death metal que vai além do peso bruto e mergulha em paisagens sonoras sombrias, o Maleficarum é uma descoberta obrigatória.
Em 2006, na cidade de Rouyn-Noranda, Quebec, surgiu uma banda que poucos chegaram a conhecer, mas que entregou dois discos capazes de encantar qualquer fã de metal extremo mais exigente: ARCHONS. Apesar de permanecer restrita ao underground canadense, sua sonoridade remetia diretamente à escola sueca do melodeath — especialmente nomes como DARK TRANQUILITY e AT THE GATES. Com apenas dois álbuns, a Archons deixou um registro pequeno, porém marcante, dentro do death metal melódico técnico.
A formação original contava com Simon Descoteaux (baixo), Christian Poulin (bateria), Simon Charette e Francis Beaulieu (guitarras), e Sébastien Audet (vocais). Desde o início, o grupo chamou atenção por unir técnica apurada, agressividade controlada e uma abordagem lírica crítica. O resultado foi sua estreia: The Consequences of Silence, lançado em 2008.
O álbum é uma verdadeira aula de melodeath técnico. A faixa de abertura, “The Enigma of Torrents”, já apresenta a proposta: riffs intricados, solos melódicos e pausas bem calculadas que criam uma atmosfera densa. Faixas como “Delusional Beliefs”, “Pulverizing Inner Thoughts” e “The Fall of a Dreamer” mostram uma banda segura de sua identidade — brutal, melódica e cerebral. A bateria de Poulin é um espetáculo à parte, com blastbeats precisos e variações rítmicas que elevam o nível do trabalho. Já os vocais de Audet, ásperos e intensos, lembram Mikael Stanne (Dark Tranquillity) em sua fase mais visceral, evocando a tradição melódica do estilo.
Outro destaque da ARCHONS está nas letras. Em vez de apostar nos clichês do gênero, a banda explorou temas como injustiça social, alienação e omissão diante de atrocidades. Em “Of Pride and Prejudice”, por exemplo, há um verso que sintetiza bem essa postura (em tradução livre): “Negligência de conhecimento só traz uma onda de ignorância”. Não é apenas uma frase de impacto — é uma crítica direta à passividade intelectual.
A produção do álbum é afiada e clara, dando espaço a cada instrumento. As melodias e harmonias aparecem de forma equilibrada, sempre a serviço da narrativa sonora. O disco mantém sua qualidade do início ao fim, com destaque para “Of Pride and Prejudice”, que traz um dos riffs mais criativos do metal técnico recente, e “Delusional Beliefs”, que surpreende com pausas limpas e bem colocadas.
Onze anos depois, em 2019, a ARCHONS retornou com Buried Underneath the Lies, lançado de forma independente. O álbum manteve a essência melodeath, mas trouxe novas camadas sonoras e uma banda mais madura. Com faixas como “The Slumber (Countless Days of Coma)”, “Nostalgia (Almost Giving Up)” e “I, the Witness”, o disco explorou temas existenciais e emocionais sem perder a pegada técnica e agressiva. A recepção foi positiva entre aqueles que acompanharam o lançamento, embora o trabalho tenha passado praticamente despercebido pela mídia especializada — dentro e fora do Canadá.
Hoje, o status da banda é incerto. Alguns registros, como o Spirit of Metal, apontam que a ARCHONS encerrou atividades em 2013, enquanto o Metal Archives ainda a lista como ativa, mesmo sem novidades desde 2019. De qualquer forma, o silêncio atual só reforça o caráter de culto da banda — um nome que poucos conhecem, mas que merece ser redescoberto.
The Consequences of Silence e Buried Underneath the Lies não são apenas registros esquecidos em algum catálogo: são lembretes de que, no submundo do metal, existem joias escondidas esperando para serem revisitadas. Para quem vive o metal com paixão e exige mais do que apenas peso, Archons é uma descoberta obrigatória.