Antes mesmo da banda austríaca de power metal popularizar o nome SERENITY, nos anos 2000, existiu no Reino Unido um grupo homônimo que deixou sua marca discreta, mas sólida, no cenário do doom europeu. Formado em 1994, na cidade de Bradford, West Yorkshire, o Serenity britânico nasceu a partir de músicos ligados ao SOLSTICE, banda inglesa de doom/epic metal, e também de projetos que mais tarde dariam origem ao KHANG.
A primeira aparição oficial veio ainda no verão de 1994, com uma demo-tape de três faixas (Black Tears, Then Came Silence e Spirituality), gravada no Inner City Studio. A fita, hoje considerada item raro de colecionador, circulou em pelo menos três versões de capa, incluindo edições em papel vermelho, e já mostrava a ambição da banda de se destacar no underground europeu. A demo chamou a atenção da gravadora francesa Holy Records, que rapidamente ofereceu ao quinteto a oportunidade de gravar um álbum completo.
O resultado foi Then Came Silence, lançado em 1995. Gravado no Engine Room Studio de Bradford, o disco revelava uma banda já madura para os padrões do underground: riffs pesados, arranjos épicos e uma atmosfera melancólica que lembrava MY DYING BRIDE e CANDLEMASS. A abertura com Black Tears dá o tom do álbum, combinando riffs densos com os vocais limpos e marcantes de Daniel Savage. A faixa-título é outro ponto alto, alternando momentos de opressão sombria com passagens mais dinâmicas, mostrando a capacidade da banda de variar o ritmo sem perder a coesão. Mesmo assim, o Serenity sabia surpreender: a curta One for the Red Sky trazia energia direta e veloz, quase destoando do clima doom, enquanto I Am With You, com mais de oito minutos, mergulhava profundamente em atmosferas arrastadas e sombrias.
A recepção foi positiva dentro do underground. Then Came Silence recebeu 17/20 no site Spirit of Metal, e faixas da banda apareceram em compilações da Holy Records, como The Holy Bible 1 (1996), com a inédita Skin of the Soul. Em pouco tempo, o Serenity havia conquistado um espaço respeitável, ainda que restrito, na cena europeia.
Em 1996, a banda retornou ao estúdio para registrar Breathing Demons, seu segundo e último álbum. Mais pesado, voltado ao death-doom e ao gothic doom, o disco dividiu opiniões: recebeu apenas 12/20 no Spirit of Metal e não alcançou a mesma repercussão do debut. Pouco depois, sem anúncios formais ou turnês expressivas, o SERENITY entrou em silêncio, sendo oficialmente considerado inativo apenas em 1997.
O legado, entretanto, não se perdeu. Alguns ex-membros fundaram o KHANG (1998-2004), que posteriormente originou o LAZARUS BLACKSTAR, voltado ao sludge/doom. Apesar de pesados e consistentes, esses projetos nunca atingiram a aura épica e atmosférica que marcou o Serenity nos anos 90.
Hoje, o SERENITY permanece como uma banda que merece ser redescoberta pelos fãs do gênero. Seu nome ressurge sempre que se revisita a história de um estilo que fez da melancolia e da densidade sonora sua principal linguagem — e que, no caso desta banda de Bradford, encontrou uma de suas expressões mais autênticas e obscuras.

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