Por Júlio Feriato
Quando se fala nos grandes nomes do death metal da Flórida do início dos anos 90, é quase automático pensar em DEATH, MORBID ANGEL, OBITUARY e DEICIDE. Mas, nessa mesma cena efervescente, surgia também o MONSTROSITY, banda que entregou um debut tão poderoso quanto subestimado: Imperial Doom.
A produção, porém, é um ponto controverso. O álbum foi gravado no renomado Morrisound Studios, e era para ter sido produzido pelo popular Scott Burns. Como Burns estava com a agenda cheia, a responsabilidade caiu nas mãos de Jim Morris, mais habituado a trabalhar com bandas de heavy metal tradicional do que com o death metal extremo. Apesar da clareza do som, que permite distinguir cada instrumento, o baterista Lee Harrison sempre demonstrou insatisfação com a mixagem, alegando que a bateria ficou alta demais e as guitarras, baixas e sem peso; como ele mesmo revelou em entrevista ao canal Heavy Culture em 2022: “Eu gosto das músicas, mas na época éramos muito jovens e estúpidos, então não posso culpar ninguém pela produção ruim”, declarou.
Talvez o fato do produtor Jim Morris nunca ter trabalhado antes com um grupo de death metal explique, em parte, o resultado não satisfatório de Imperial Doom – curiosamente, alguns anos depois, o mesmo Jim Morris assinaria a produção de Symbolic (1995), do DEATH, amplamente considerado o álbum mais bem produzido da banda.
Mesmo assim, músicas como a faixa-título, “Ceremonial Void”, “Definitive Inquisition”, "Burden of Evil" e "Final Cremation" (que ganhou um videoclipe) se tornaram cultuadas no underground, marcando também a estreia de George Fisher, que anos depois assumiria os vocais do CANNIBAL CORPSE.
A capa de Imperial Doom, assinada por Dan Seagrave, também merece destaque. O artista britânico criou aqui uma paisagem sombria e monumental, repleta de ruínas ciclópicas e figuras arquitetônicas que remetem à decadência de civilizações inteiras. A escolha visual traduz perfeitamente o conceito de “imperial” e de “ruína” presente no título: uma metáfora visual para a queda inevitável de qualquer poder terreno diante da brutalidade e da morte. Assim como a música, a arte mistura grandiosidade e devastação, tornando o disco imediatamente reconhecível na prateleira e reforçando seu caráter épico dentro do underground.
Durante a divulgação no Brasil, em entrevista à revista Rock Brigade, Fisher chegou a afirmar que Imperial Doom era um disco de “matar Deus”. No mesmo instante, ele se corrigiu, esclarecendo que se tratava apenas de uma metáfora e que não tinha nada contra a fé ou um Deus espiritual.
No país, o álbum ganhou status cult entre os deathbangers. Licenciado pela Rock Brigade Records, distribuído pela Devil Discos e prensado pela BMG Ariola, tornou-se uma relíquia disputada entre colecionadores. Nos círculos underground, é lembrado como um tesouro difícil de encontrar, já que muitas cópias circulam apenas em forma de bootlegs caros.
Comentários de fãs e críticos reforçam sua relevância. Alguns destacam a densidade técnica e a mistura de brutalidade com complexidade, enquanto outros lembram que a produção, embora “polida”, não tira a força das composições. Sites como Metal Archives, Metal Academy e Sputnikmusic consideram Imperial Doom um registro essencial do death metal técnico, muitas vezes colocado entre os melhores trabalhos da banda.
Apesar da qualidade, o álbum não teve a mesma projeção internacional de contemporâneos como Cannibal Corpse ou Morbid Angel. A turnê de divulgação sofreu cortes, e a banda não alcançou o mesmo espaço em clipes ou na mídia especializada.
Esse “desaparecimento” do catálogo oficial só aumentou o status cult de Imperial Doom, tornando-o uma joia rara dentro da história do death metal. Passados mais de trinta anos, o disco segue essencial para compreender a cena da Flórida: brutal, técnico e sem concessões. É uma obra que divide opiniões sobre produção, mas que representa como poucas o espírito de uma época em que o death metal florescia em sua forma mais pura e impiedosa.
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