Por Júlio Feriato
| Da esq. p/ dir.: Tim Yeung, Risha Eryavac, Luke Jaeger, Deron Miller. |
Há tantas discussões sobre o motivo de tantas bandas não conseguirem viver apenas de sua música. Para mim, a resposta é até simples: existem bandas demais. É humanamente impossível acompanhar tudo o que é lançado — e no heavy metal isso é ainda mais evidente, porque quase todo fã também é músico e tem um projeto próprio.
E por que estou tocando nesse ponto? Porque talvez aí esteja uma das razões pelas quais o WORLD UNDER BLOOD nunca chegou a estourar mundialmente. Mesmo tendo lançado, em 2011, pela Nuclear Blast, um disco forte como Tactical, a banda passou quase despercebida — muita gente que curte metal extremo sequer chegou a ouvir falar deles.
A história da banda gira em torno de Deron Miller, vocalista, guitarrista e principal compositor do projeto. No Brasil ele é praticamente desconhecido, mas nos EUA sempre teve seu espaço por causa do CKY e, mais recentemente, do 96 BITTER BEINGS, ambos mais voltados ao rock alternativo. Por isso, quando foi anunciado que ele estaria à frente de um projeto de death metal melódico — contando também com Tim Yeung na bateria (ex-MORBID ANGEL), Luke Jaeger na guitarra (SLEEP TERROR) e Risha Eryavac no baixo (DECREPIT BIRTH, ex-ABYSMAL DAWN) — a curiosidade foi quase geral. Mas, quando Tactical saiu, não duvido que muita gente tenha ficado positivamente surpresa. Ele é, sem exagero, um dos discos mais inspirados do death metal dos anos 2010.
Antes de tudo: não, Deron não reinventou o estilo aqui. Não é esse o ponto. Mas ele conseguiu reunir o que havia de melhor no death metal melódico daquele período, somado a influências que, à época, muita gente tinha deixado de lado. Há ecos do death metal técnico da Flórida — algo entre DEATH e CYNIC — mas sempre filtrados pela identidade de Miller. É rápido, é agressivo, mas também melódico e técnico sem cair naquela fritação gratuita que muitas bandas do tech-death adotam. E o grande diferencial é justamente o vocal de Deron, alternando guturais fortes com vocais limpos bem colocados. O resultado, longe de estragar a atmosfera, é o que dá caráter ao disco e também uma camada progressiva, uma personalidade que o distancia do death metal mais genérico. Esse detalhe, pra mim, é acerto, não falha.
Aqui vale destacar outro ponto essencial: a produção, assinada por James Murphy (sim, o ex-DEATH, ex-OBITUARY e ex-TESTAMENT). Murphy conseguiu deixar Tactical nítido, pesado e sem exageros. As guitarras têm textura, a bateria é intensa sem soar artificial e o baixo, ao contrário de muitas produções extremas, está presente e definido. A sonoridade que ele alcança é parte do motivo pelo qual o álbum soa tão atual até hoje.
Ah, e o álbum fecha com um cover de “Wake Up Dead” (Megadeth), muito fiel ao espírito do original e executado com respeito.
Sem turnê, sem formação estável e sem um apoio mais sólido da Nuclear Blast, o WORLD UNDER BLOOD permaneceu como aquilo que sempre foi: um projeto de estúdio criado no momento certo, por músicos que estavam disponíveis naquele instante. Justamente por isso, Tactical soa tão único — e também tão isolado na discografia de todos os envolvidos.
Dito isso, Tactical merece ser lembrado. E, de certa forma, redescoberto.
