Por Julio Feriato
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Formação clássica: Greg Christian (baixo), Eric Peterson (guitarra), Chuck Billy (vocal), Louie Clemente (bateria) e Alex Scholnick (guitarra) |
O thrash metal entrou na minha vida com a força de uma explosão — e a explosão tinha nome: "Rust in Peace". Foi com esse disco do MEGADETH que descobri que guitarras podiam ser afiadas como navalhas e, ao mesmo tempo, extremamente técnicas. A partir dali, eu já não era mais o mesmo ouvinte. Estava iniciado no metal — e precisava de mais.
Pouco tempo depois, conheci o TESTAMENT. Foi por meio de uma entrevista com o guitarrista Alex Skolnick, publicada na Rock Brigade, durante a emblemática turnê Clash of the Titans, que eles fizeram pelos Estados Unidos e Canadá. A banda me pareceu interessante, e o nome ficou gravado.
Coincidência ou sinal dos deuses do metal, naquela mesma semana encontrei "Souls of Black" à venda na única loja de discos da minha cidade. Nunca tinha ouvido uma música sequer deles, mas voltei correndo pra casa, pedi dinheiro ao meu pai e rezei para que ninguém comprasse o álbum antes de mim. Voltei à loja e comprei o disco no escuro — confiando apenas na capa e na matéria da revista.
Naqueles tempos, começo dos anos 90, era assim que se descobria música. Não havia YouTube, Spotify, nem sequer internet. Era a fé cega na Rock Brigade, que moldou pelo menos 80% da minha formação musical. Foi assim que também conheci KREATOR, MORBID ANGEL, MONSTROSITY, SINISTER, e tantos outros nomes que hoje fazem parte do meu DNA.
Com o TESTAMENT, a aposta deu certo. "Souls of Black" não saiu mais do meu toca-discos. Ele se somou a "Rust in Peace" e "Coma of Souls" (KREATOR) como parte da trilha sonora da minha juventude. O som do TESTAMENT era diferente — agressivo, sim, mas com uma musicalidade absurda. Os riffs tinham peso e melodia, e os solos de Skolnick em faixas como “Malpractice” me deixaram hipnotizado.
Depois disso, fui atrás da discografia anterior e fiquei fascinado com "The New Order" e "Practice What You Preach" — o "The Legacy", àquela altura, ainda não havia sido lançado no Brasil. Mas o sentimento já era claro: o TESTAMENT tinha cravado seu lugar entre minhas bandas favoritas.
Lembro bem de quando, anos depois, vi no saudoso Fúria Metal, apresentado por Gastão Moreira, o clipe de “Electric Crown”, faixa do álbum "The Ritual". Foi amor à primeira audição. Comprei o disco e, mesmo com uma pegada menos thrash, "The Ritual" acabou se tornando meu preferido da banda. Era um álbum mais melódico, mais trabalhado, com composições que deixavam Skolnick brilhar com toda sua sensibilidade.
Mais tarde, li uma entrevista em que Eric Peterson dizia que "The Ritual" era o álbum que menos representava a banda. Entendi o desabafo. Na época, a Atlantic Records pressionava o grupo a fazer algo mais acessível, com baladas e refrões mais suaves — talvez influenciada pelo sucesso do grunge. Mesmo assim, "The Ritual" me marcou profundamente, e até hoje acho que foi uma obra incompreendida.
Depois dele, apenas "Low" (1994) conseguiu me impactar. A banda passou por turbulências: Louie Clemente e Alex Skolnick deixaram o grupo. Em seus lugares entraram John Tempesta (ex-EXODUS) na bateria e o gigante James Murphy na guitarra — conhecido por sua atuação no DEATH, OBITUARY e no DISINCARNATE. O resultado foi um álbum pesado, agressivo, quase flertando com o death metal. Faixas como “Dog Faced Gods”, “Hail Mary” e a faixa-título foram socos certeiros.
Mas após "Low", o vínculo começou a se desfazer. "Demonic" me pareceu forçado. "The Gathering" começou bem, mas enjoou rápido. E "First Strike Still Deadly", com regravações da fase clássica, mesmo com a produção impecável de Andy Sneap, não chegou nem perto da energia das versões originais.
A partir daí, a relação virou distância respeitosa. Muita gente vibrou com a volta da formação clássica em "The Formation of Damnation" (2008) e nos discos seguintes — "Dark Roots of Earth" (2012), "Brotherhood of the Snake" (2016) — mas, para mim, nada daquilo tocava fundo. Eram álbuns competentes, mas que pareciam feitos para cumprir expectativas. Faltava alma, espontaneidade. Até mesmo Skolnick, antes tão criativo e expressivo, agora parecia engessado.
Formação de The Formation of Damnation, com Paul Bostaph na bateria. |
Mas nada disso apaga o impacto que tiveram em mim naquele começo. Naquele dia em que entrei numa loja de discos, comprei um vinil sem saber o que viria e descobri, ali, mais uma peça fundamental da minha trilha sonora.
O TESTAMENT pode não ser mais o mesmo. Mas quem ouviu "Souls of Black" pela primeira vez em 1991, com a capa nas mãos e o toca-discos girando, sabe exatamente o que é ser arrebatado por uma banda.
Atual formação do Testament: Alex Scholnick (g), Eric Peterson (g), Chuck Billy (v), Gene Hoglan (bt) e Steve Diorgigio (b) |
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