30 outubro 2017

HELLOWEEN: falhas técnicas não tiraram o brilho das apresentações em São Paulo

Por Daniel Pacheco / Fotos: Fernando Yokota
Existem reuniões que obviamente são caça níqueis, aquelas em que a banda não produz mais nada relevante há algum tempo e precisa levantar uma grana. Mas, também existem reuniões sinceras, onde a vontade de tocar novamente é algo latente e visível para o público. E, por último, existe esta reunião do Helloween, algo realmente novo, onde a formação antiga se juntou a atual no palco e nos levou por uma verdadeira viagem no tempo!
Andi Deris está à frente do Helloween desde 1994 e não precisa provar nada à ninguém, mas é fato que a maior ansiedade do público era de ver o emblemático vocalista Michael Kiske à frente da banda cantando seus maiores clássicos. Além de Kiske, para essa turnê também contou com o guitarrista/vocalista Kai Hansen, compositor da maioria do material dos primeiros três discos da banda e vocalista original.

Infelizmente, nem tudo saiu como esperado. Na apresentação do dia 28 (sábado), o telão de fundo onde apareceriam várias animações, simplesmente não funcionou. Já no dia 29 a coisa foi além. O sistema de Pa's simplesmente parou de funcionar justamente no momento mais esperado pelo fãs...
O espetáculo começou por voltas das 19h30m quando de cara, assim que a belíssima cortina caiu, o som da música “Halloween” (Keeper Of The Seven Keys Pt I) tomou o Espaço das Américas. Você deve ter notado que eu não usei a palavra show, isso é proposital. O que o Helloween traz nesta turnê não é nem de longe um show, é um espetáculo musical, com interações planejadas, animações que casam perfeitamente com cada letra cantada, intervalos preenchidos por desenhos desenvolvidos especialmente para essa tour, enfim, algo realmente fora da curva do que estamos habituados.
Voltando a falar em Kai Hansen, o cara é um show à parte. Ele tocou todas as músicas do setlist, não se limitou apenas às composições de quando era parte do grupo. Além de marcar um dos momentos mais emblemáticos do espetáculo, o medley das músicas “Starlight”, “Ride The Sky”, “Judas” e “Heavy Metal is The Law”, todas do disco “Walls of Jericho), debut da banda lançado em 1985, que conta com ele nos vocais. A qualidade de sua voz é algo inquestionável e era possível ver diversos tiozões de mais de 40 anos derramando lágrimas. Infelizmente durante a execução desse medley, o sistema de Pa’s da casa falhou miseravelmente e o som desapareceu. Neste momento tivemos um intervalo forçado e os músicos deixaram o palco por cerca de dez minutos.
Ao retornarem, Kai brincou que os “PA’s não aguentaram pois eles eram muito pesados e intensos” e retomaram a música desde o início. Só que, antes do refrão de “Starlight”, novamente os PA’s falharam! Era possível ver a frustração dos músicos e isso nos levou a mais um intervalo, maior do que o primeiro. O público teve que esperar mais quinze minutos para que a música fosse retomada novamente. É importante dizer que nenhuma música som foi cortado do setlist, pois a banda gravaria um DVD naquela noite.
É difícil trazer destaques em um espetáculo de tamanha qualidade, pois não faltaram clássicos de todas as fases da banda, inclusive vimos Andi Deriscantando músicas da fase Kiske e o próprio Kiske cantando músicas da fase Deris. Um dos duetos mais legais aconteceu durante “Forever and One”, do disco “The Time of The Oath”. A música caiu como uma luva para a voz do careca e pareceu ter sido escrita para ele. Outro momento que ficará para sempre marcado na memória de quem esteve por lá foi a execução da música “How Many Tears”. Esta música foi gravada pelos três vocalistas presentes e por isso houve um “trieto”, onde a cada estrofe um deles cantou culminando em um refrão com uma harmonia de outro mundo das três vozes!
Markus Grosskopf, baixista original da banda, parece ter engolido uma bateria de um carro, o cara não para nem por um segundo, com um sorriso de orelha a orelha estampado no rosto durante o show todo. Michael Weikath, guitarrista que fundou a banda junto a Kai Hansen, já é um cara um pouco mais reservado no palco, sempre carrancudo e portando um cigarro nos lábios durante boa parte do tempo, um retrato ambulante de si mesmo, dono de uma genialidade absurda. Foi fantástico vê-lo duelando com Kai Hansen durante os famosos solos gêmeos que marcam a identidade do Helloween.
Sascha Gerstner e Dani Löble, respectivamente guitarrista e baterista da atual formação da banda, fizeram seus papéis brilhantemente, apesar do músicos extremamente competentes, infelizmente durante este espetáculo, os caras acabaram caindo mais como coadjuvantes. Dani teve um breve momento de protagonismo durante o solo de bateria, que serviu como homenagem ao baterista original Ingo Schwichtenberg, falecido em 1995, durante o solo vimos um duelo bem interessante entre Dani e Ingo, as partes do falecido batera foram captadas de performances da década de 90 e serviram para que de certa forma ele também fizesse parte dessa festa.

O show teve uma duração de aproximadamente 3 horas, e deixou todos os presentes atordoados. Michael Kiske, totalmente recuperado da gripe, deixou de lado todo e qualquer artifício pré gravado. A simpatia e presença do cara foram impressionantes, assim como a de Andi Deris, deixando qualquer rivalidade boba inventada pelos fãs, enterrada.

Set List:
1. Initiation
2. Halloween (Michael Kiske & Andi Deris)
3. Dr. Stein (Michael Kiske & Andi Deris)
4. I'm Alive (Michael Kiske)
5. If I Could Fly (Andi Deris)
6. Are You Metal? (Andi Deris)
7. Rise and Fall (Michael Kiske)
8. Waiting for the Thunder (Andi Deris)
9. Perfect Gentleman (wAndi Deris)
10. Starlight / Ride the Sky / Judas / Heavy Metal (Is the Law) (Kai Hansen)
11. Forever and One (Neverland) (Michael Kiske & Andi Deris)
12. A Tale That Wasn't Right (Michael Kiske & Andi Deris)
13. I Can (Andi Deris)
14. Drum Solo (Dani Löble & Ingo 'battle')
15. Livin' Ain't No Crime / A Little Time (Michael Kiske)
16. Why? (Michael Kiske & Andi Deris)
17. Sole Survivor (Andi Deris)
18. Power (Michael Kiske & Andi Deris)
19. How Many Tears (Andi Deris, Michael… more )

Bis:
20. Eagle Fly Free (Michael Kiske)
21. Keeper of the Seven Keys (Michael Kiske & Andi Deris)

Bis 2:
22. Future World (Michael Kiske)
23. I Want Out (Michael Kiske & Andi Deris)


27 outubro 2017

F.K.Ü.: vocalista fala sobre novo álbum, filmes de horror e sua opinião sobre refugiados sírios

Por Daniel Pacheco / Fotos: divulgação

Da esq. p/ dir.: Emil Berglin (bateria), Lawrence Mackrory (vocal), Pat Splat (baixo) e Pete Stooaahl (guitarra)
Lawrence Mackrory nasceu na Inglaterra, porém mudou-se para a Suécia com sua família ainda criança e por lá permanece até os dias de hoje. Atualmente possui seu próprio estúdio e ganha a vida como produtor e engenheiro de som, além de ser vocalista das bandas F.K.Ü. e DARKANE.

O Darkane deu uma sumida após lançar o ótimo "The Sinister Supremacy" em 2013, mas o F.K.Ü. continua firme e em novembro deste ano irá soltar seu mais novo álbum, intitulado "1981", cujo título é uma referência aos vários filmes de horror lançados naquele ano.

Conversamos com Mackrory para saber um pouco mais sobre o novo disco do F.K.Ü, e ele se mostrou um cara muito carismático e bem humorado, mesmo quando o assunto ficou mais sério ao ser questionado sobre a crise dos refugiados da Síria (a resposta que ele deu foi magnífica!). Portanto, acomode-se em sua cadeira e fure o seu Toddynho, pois o papo com foi bem legal.


Como foi desenvolver o gênero thrash 'horror' metal?
Foi em 1987, pois Pat, Pete e nosso primeiro baterista ouviam muito S.O.D. e decidiram começar uma banda. Uma das músicas chamava-se "Freddy Krueger", então os caras acharam que seria uma ótima ideia combinar crossover thrash metal com horror e um pouco de humor, então renomearam a banda como Underwear Freddy Krueger.

A primeira formação foi completada por um cara chamado Afro no vocal, que era um chef mexicano. A banda durou apenas alguns ensaios, mas, dez anos depois, em 1997, eles decidiram formar a banda novamente. Como o Afro não era realmente um bom cantor, eles me perguntaram se eu queria fazer os vocais. É claro que eu concordei, pois éramos bons amigos.

Começamos a ensaiar e a escrever músicas feito loucos e percebemos que havíamos escrito quase um álbum inteiro, que se tornou "Metal Thrashing Mas", nosso primeiro disco. A combinação de horror e thrash metal se tornou nossa marca e nos acompanha até hoje.

O novo álbum do F.K.Ü. chama-se "1981", que foi um ano especial para os fãs dos filmes de horror! Você tem alguma lembrança especial de filmes daquele ano?
Naquela época eu tinha apenas cinco anos e havia acabado de mudar da Inglaterra para a Suécia, então eu ainda não sabia nada sobre filmes e heavy metal. Mas, alguns anos depois eu comecei a sair com um amigo que tinha um irmão mais velho que curtia metal, e, quando ele não estava em casa, a gente costumava ouvir seus discos e logo descobrimos que ele tinha uma coleção de filmes de terror. Eu já conhecia alguma coisa do Hitchcock, mas o filme que realmente me marcou foi "Evil Dead", lançado em 1981. Depois disso fiquei viciado no gênero.

Recentemente vocês divulgaram a nova música "Nightmares in a Damaged Brain" e parece que vocês voltaram a fazer algo mais rápido e cheio de raiva...
Sim, você está certo! Queríamos que este álbum soasse mais agressivo e até um pouco mais punk, com músicas mais curtas e diretas, nada de mid-tempo! Então, começamos a compor um monte de músicas, e, quando as tocávamos, sempre olhávamos para a cara um do outro e nos perguntávamos: "essa música está muito chata?" Se a resposta fosse 'não', ela permaneceria no álbum.

"4: Rise of the Mosh Mongers" (2013) é um disco mais cadenciado, com muitas influências de heavy metal. Como isso aconteceu?
Na época a gente estava ouvindo muito heavy metal tradicional e foi inevitável essa influência no disco. É um trabalho que a gente realmente adora, mas contém músicas um pouco chatas e que não trouxeram aquela energia que pensamos ser sinônimo do F.K.Ü..

Eu também canto em uma banda de thrash metal e toda vez que ouço as músicas do F.K.Ü. eu realmente 'piro' no seu vocal! Antes de soltar a voz você faz algum tipo de preparação? E quais suas influências como vocalista?
Obrigado pelos elogios! Eu realmente não faço nenhum preparo, a não ser quando sinto que minha voz está um pouco 'cansada'. Neste caso eu faço algumas rotinas básicas de aquecimento vocal. Conheço muito bem a minha voz e digo imediatamente se preciso segurar ou se posso 'empurrar' muito.

Minhas influências são, basicamente, todos os grandes vocalistas thrash como Paul Baloff e Steve Souza (Exodus), Bobby Blitz (Overkill), Sean Killian (Vio-lence), John Cyriis (Agent Steel) Russ Anderson (Forbidden), Chuck Billy (Testament); além de Bruce Dickinson e Dio, é claro.

Darkane
Além do F.K.Ü. você também é vocalista do Darkane. Você tem influências diferentes na hora de criar os vocais para o Darkane?
É uma abordagem totalmente diferente e tento usar outros aspectos da minha voz no Darkane, pois eu curto cantar com mais melodia e fazer gritos mais agressivos. As influências são as mesmas e há outros vocalistas que admiro, como Chulck Schuldiner (Death) e Devin Townsend. Mas eu acho que não me inspiro em cantores específicos no Darkane, apenas faço o que é natural pra mim.

O último álbum do Darkane foi "The Sinister Supremacy" (2013). Como estão as coisas com a banda, existem planos para um novo álbum?
As coisas estão bem! Alguns membros precisavam de algum tempo de distância da banda, mas o novo álbum está sendo escrito.

Vou te mostrar algumas bandas brasileiras que são influenciadas pelo F.K.Ü. e depois me diga o que achou delas, ok?
Ok, estou curioso!

Cemitério - "Pague para Entrar, Reze para Sair"

Muito legal, gostei das guitarras! A música tem o mesmo ritmo o tempo todo e assim fica um pouco repetitivo. Eles deveriam ter colocado algumas pausas aqui e ali, reduzir a metade do tempo em algum lugar. Mas, no geral, uma banda muito sólida com muito potencial.

Imminent Attack - "Splact"

Som bastante sólido, bem crossover. Lembra um pouco o Municipal Waste. Os shows ao vivo devem ser divertidos, banda legal!

Cursed Slaughter - "Necronomicon"

Sim! Energia incrível! Eu realmente gostei disso, não há um segundo chato na música! Se um dia tocarmos no Brasil, gostaria que esses caras abrissem pra nós!

Zombie Cookbook - "Motel Hell"


Gostei! Tem uma vibe mais death metal, mas eu adoro death metal! O vídeo é bem divertido, amei as animações.

Lawrence, recentemente realizamos uma entrevista com o vocalista da banda polonesa Thunderwar e perguntamos a ele qual era sua opinião sobre os refugiados da guerra na Síria. Ele respondeu que "não há lugar para parasitas na Polônia". Eu sei que a Suécia é o país europeu que recebeu a maioria dos refugiados dos países islâmicos e sempre vejo pessoas criticando. Qual a sua opinião sobre esta situação em seu país?
Eu acho que todos devemos ser mais compassivos e menos estúpidos. É fácil dizer coisas assim se você nunca teve que fugir do seu próprio país com medo de ser preso ou morto. Não podemos esquecer que a Alemanha invadiu a Polônia em 1939 e muitos poloneses procuraram refúgio em outros países. De qualquer modo, não há uma 'situação' na Suécia... Nós aceitamos muitos refugiados, e daí? As ruas da Suécia parecem as mesmas como sempre foram.

Para encerrar: qual é o seu álbum favorito do FKÜ?
Honestamente, meu favorito é "1981". Nunca me senti tão satisfeito depois de gravar um álbum como este!

Qual seu filme de terror favorito dos anos 80?
Evil Dead (A Morte do Demônio)!

E qual é o seu pior pesadelo?
O meu pior pesadelo é receber uma xícara de café e descobrir que o café não existe e nunca existiu. O horror! (risos)

Muito obrigado pelo seu tempo! Espero ver você e sua banda em breve no Brasil, e, por favor, entre em contato com os selos brasileiros, pois é muito difícil encontrar seus discos por aqui!
Muito obrigado! Foi divertido responder a essas perguntas. Eu direi ao nosso selo que eles precisam encontrar um parceiro brasileiro o mais rápido possível!

Discografia de Lawrence Mackrory com F.K.Ü.:
"Metal Moshing Mad" (1999); "Sometimes They Come Back... to Mosh" (2005); "Where Moshers Dwell" (2009); "4: Rise of the Mosh Mongers" (2013); "1981" (2017).

Com Darkane:
"Rusted Angel" (1999); "The Sinister Supremacy" (2013).





08 outubro 2017

Saudade do antigo TESTAMENT

Por Julio Feriato
Formação clássica: Greg Christian (baixo), Eric Peterson (guitarra), Chuck Billy (vocal), Louie Clemente (bateria) e Alex Scholnick (guitarra)

O thrash metal entrou na minha vida com a força de uma explosão — e a explosão tinha nome: "Rust in Peace". Foi com esse disco do MEGADETH que descobri que guitarras podiam ser afiadas como navalhas e, ao mesmo tempo, extremamente técnicas. A partir dali, eu já não era mais o mesmo ouvinte. Estava iniciado no metal — e precisava de mais.

Pouco tempo depois, conheci o TESTAMENT. Foi por meio de uma entrevista com o guitarrista Alex Skolnick, publicada na Rock Brigade, durante a emblemática turnê Clash of the Titans, que eles fizeram pelos Estados Unidos e Canadá. A banda me pareceu interessante, e o nome ficou gravado.


Coincidência ou sinal dos deuses do metal, naquela mesma semana encontrei "Souls of Black" à venda na única loja de discos da minha cidade. Nunca tinha ouvido uma música sequer deles, mas voltei correndo pra casa, pedi dinheiro ao meu pai e rezei para que ninguém comprasse o álbum antes de mim. Voltei à loja e comprei o disco no escuro — confiando apenas na capa e na matéria da revista.

Naqueles tempos, começo dos anos 90, era assim que se descobria música. Não havia YouTube, Spotify, nem sequer internet. Era a fé cega na Rock Brigade, que moldou pelo menos 80% da minha formação musical. Foi assim que também conheci KREATOR, MORBID ANGEL, MONSTROSITY, SINISTER, e tantos outros nomes que hoje fazem parte do meu DNA.

Com o TESTAMENT, a aposta deu certo. "Souls of Black" não saiu mais do meu toca-discos. Ele se somou a "Rust in Peace" e "Coma of Souls" (KREATOR) como parte da trilha sonora da minha juventude. O som do TESTAMENT era diferente — agressivo, sim, mas com uma musicalidade absurda. Os riffs tinham peso e melodia, e os solos de Skolnick em faixas como “Malpractice” me deixaram hipnotizado.


Depois disso, fui atrás da discografia anterior e fiquei fascinado com "The New Order" e "Practice What You Preach" — o "The Legacy", àquela altura, ainda não havia sido lançado no Brasil. Mas o sentimento já era claro: o TESTAMENT tinha cravado seu lugar entre minhas bandas favoritas.

Lembro bem de quando, anos depois, vi no saudoso Fúria Metal, apresentado por Gastão Moreira, o clipe de “Electric Crown”, faixa do álbum "The Ritual". Foi amor à primeira audição. Comprei o disco e, mesmo com uma pegada menos thrash, "The Ritual" acabou se tornando meu preferido da banda. Era um álbum mais melódico, mais trabalhado, com composições que deixavam Skolnick brilhar com toda sua sensibilidade.


Mais tarde, li uma entrevista em que Eric Peterson dizia que "The Ritual" era o álbum que menos representava a banda. Entendi o desabafo. Na época, a Atlantic Records pressionava o grupo a fazer algo mais acessível, com baladas e refrões mais suaves — talvez influenciada pelo sucesso do grunge. Mesmo assim, "The Ritual" me marcou profundamente, e até hoje acho que foi uma obra incompreendida.

Depois dele, apenas "Low" (1994) conseguiu me impactar. A banda passou por turbulências: Louie Clemente e Alex Skolnick deixaram o grupo. Em seus lugares entraram John Tempesta (ex-EXODUS) na bateria e o gigante James Murphy na guitarra — conhecido por sua atuação no DEATH, OBITUARY e no DISINCARNATE. O resultado foi um álbum pesado, agressivo, quase flertando com o death metal. Faixas como “Dog Faced Gods”, “Hail Mary” e a faixa-título foram socos certeiros.

Testament em 1994, lineup de "Low".
Mas após "Low", o vínculo começou a se desfazer. "Demonic" me pareceu forçado. "The Gathering" começou bem, mas enjoou rápido. E "First Strike Still Deadly", com regravações da fase clássica, mesmo com a produção impecável de Andy Sneap, não chegou nem perto da energia das versões originais.

A partir daí, a relação virou distância respeitosa. Muita gente vibrou com a volta da formação clássica em "The Formation of Damnation" (2008) e nos discos seguintes — "Dark Roots of Earth" (2012), "Brotherhood of the Snake" (2016) — mas, para mim, nada daquilo tocava fundo. Eram álbuns competentes, mas que pareciam feitos para cumprir expectativas. Faltava alma, espontaneidade. Até mesmo Skolnick, antes tão criativo e expressivo, agora parecia engessado.

Formação de The Formation of Damnation, com Paul Bostaph na bateria.
Hoje, tenho a impressão de que o TESTAMENT passou de uma banda pressionada para soar comercial a uma banda pressionada para soar “tr00”. E, sinceramente, tudo que é planejado demais, ensaiado demais, calculado demais, perde a magia.

Mas nada disso apaga o impacto que tiveram em mim naquele começo. Naquele dia em que entrei numa loja de discos, comprei um vinil sem saber o que viria e descobri, ali, mais uma peça fundamental da minha trilha sonora.

O TESTAMENT pode não ser mais o mesmo. Mas quem ouviu "Souls of Black" pela primeira vez em 1991, com a capa nas mãos e o toca-discos girando, sabe exatamente o que é ser arrebatado por uma banda.

Atual formação do Testament: Alex Scholnick (g), Eric Peterson (g), Chuck Billy (v), Gene Hoglan (bt) e Steve Diorgigio (b)