05 setembro 2025

MONSTROSITY: o clássico Imperial Doom segue eterno no underground

 Por Júlio Feriato

Quando se fala nos grandes nomes do death metal da Flórida do início dos anos 90, é quase automático pensar em DEATH, MORBID ANGEL, OBITUARY e DEICIDE. Mas, nessa mesma cena efervescente, surgia também o MONSTROSITY, banda que entregou um debut tão poderoso quanto subestimado: Imperial Doom.

Lançado em 26 de maio de 1992 pela Nuclear Blast, Imperial Doom deixou sua assinatura indelével no death metal técnico da Flórida. A formação era afiada: Lee Harrison (bateria), George “Corpsegrinder” Fisher (vocal), Jason Gobel (guitarra), Jon Rubin (guitarra) e Mark Van Erp (baixo). Com riffs brutais e precisão cirúrgica na base rítmica, o álbum mostrou que o MONSTROSITY poderia rivalizar com os gigantes da cena, ainda que o sucesso comercial nunca tenha realmente chegado.

A produção é um ponto controverso. Gravado no renomado Morrisound Studios, o disco seria produzido por Scott Burns, mas sua agenda lotada levou o trabalho a Jim Morris, mais conhecido por trabalhar com bandas de heavy metal tradicional. O resultado foi uma sonoridade clara, que permite distinguir cada instrumento, mas que não agradou a todos. O baterista Lee Harrison já declarou insatisfação com a mixagem, criticando as guitarras por terem ficado limpas demais e sem o peso visceral que a banda tinha ao vivo. Essa visão crítica interna tornou-se uma das marcas das discussões sobre o álbum.

Mesmo assim, músicas como a faixa-título, “Ceremonial Void”, “Definitive Inquisition”, "Burden of Evil" e "Final Cremation" (que ganhou um videoclipe) se tornaram cultuadas no underground, marcando também a estreia de George Fisher, que anos depois assumiria os vocais do CANNIBAL CORPSE.

A capa de Imperial Doom, assinada por Dan Seagrave, também merece destaque. O artista britânico criou aqui uma paisagem sombria e monumental, repleta de ruínas ciclópicas e figuras arquitetônicas que remetem à decadência de civilizações inteiras. A escolha visual traduz perfeitamente o conceito de “imperial” e de “ruína” presente no título: uma metáfora visual para a queda inevitável de qualquer poder terreno diante da brutalidade e da morte. Assim como a música, a arte mistura grandiosidade e devastação, tornando o disco imediatamente reconhecível na prateleira e reforçando seu caráter épico dentro do underground.

Durante a divulgação no Brasil, em entrevista à revista Rock Brigade, Fisher chegou a afirmar que Imperial Doom era um disco de “matar Deus”. No mesmo instante, ele se corrigiu, esclarecendo que se tratava apenas de uma metáfora e que não tinha nada contra a fé ou um Deus espiritual. 

No país, o álbum ganhou status cult entre os deathbangers. Licenciado pela Rock Brigade Records, distribuído pela Devil Discos e prensado pela BMG Ariola, tornou-se uma relíquia disputada entre colecionadores. Nos círculos underground, é lembrado como um tesouro difícil de encontrar, já que muitas cópias circulam apenas em forma de bootlegs caros.

Comentários de fãs e críticos reforçam sua relevância. Alguns destacam a densidade técnica e a mistura de brutalidade com complexidade, enquanto outros lembram que a produção, embora “polida”, não tira a força das composições. Sites como Metal Archives, Metal Academy e Sputnikmusic consideram Imperial Doom um registro essencial do death metal técnico, muitas vezes colocado entre os melhores trabalhos da banda.

Apesar da qualidade, o álbum não teve a mesma projeção internacional de contemporâneos como Cannibal Corpse ou Morbid Angel. A turnê de divulgação sofreu cortes, e a banda não alcançou o mesmo espaço em clipes ou na mídia especializada.


Depois de sua primeira tiragem em 1992 e alguns repressings até 1997, Imperial Doom nunca mais recebeu relançamento oficial. Apenas cópias piratas surgiram no Leste Europeu por volta de 2015. As razões exatas nunca foram confirmadas, mas há fortes indícios de questões contratuais e de direitos autorais com a Nuclear Blast. A ausência de edições atuais em CD ou vinil oficial transformou o álbum em item de colecionador, com preços altos em sites como Discogs e eBay.

Esse “desaparecimento” do catálogo oficial só aumentou o status cult de Imperial Doom, tornando-o uma joia rara dentro da história do death metal. Passados mais de trinta anos, o disco segue essencial para compreender a cena da Flórida: brutal, técnico e sem concessões. É uma obra que divide opiniões sobre produção, mas que representa como poucas o espírito de uma época em que o death metal florescia em sua forma mais pura e impiedosa.