22 julho 2025

Ozzy Osbourne: a voz que me ajudou a sobreviver à adolescência

Por Júlio Feriato

Hoje, Ozzy Osbourne morreu. E com ele, algo dentro de mim também se foi.

Não apenas o vocalista do Black Sabbath, o "Príncipe das Trevas", o ícone — mas a voz que atravessou os anos mais turbulentos da minha vida e, sem dizer diretamente, me sussurrou: "Você não está sozinho."

Ozzy nunca foi meu ídolo absoluto. Não sou do tipo que colecionou tudo, que sabia cada data, cada letra de cor. Mas ele sempre esteve lá. Ele era parte constante da trilha sonora que embalou uma fase que, de verdade, me salvou. E, de alguma forma, ele também me salvou.

Na adolescência, eu era um enigma mal resolvido. Me sentia deslocado, estranho, como se tivesse sido deixado de lado num mundo que eu não entendia. Em casa, o afeto não era ausente, mas eu não sentia. O futuro, uma névoa espessa. Havia um aperto no peito que ninguém via — nem perguntava. Mas aí vinham os fins de semana. E vinham os amigos.

Nos reuníamos sem grandes planos, sem excessos, sem vícios. Não fumávamos, não bebíamos álcool. Só queríamos estar juntos, num espaço onde a gente pudesse ser quem era, sem explicações. E o que nos unia, mais do que qualquer coisa, era o heavy metal.

Aquilo não era só música. Era fuga. Era abrigo. Era nossa principal válvula de escape. Aqueles riffs distorcidos, os vocais carregados de dor e fúria, davam nome ao que a gente sentia e não sabia dizer. Transformavam o que era sufocante em algo suportável. E, por alguns instantes, nos faziam sentir vivos.

Ozzy fazia parte disso. Não era o centro, mas era base. Um dos pilares de tudo. Um dos pais daquele som que parecia entender melhor a gente do que qualquer adulto ao nosso redor. Quando ele cantava, era como se dissesse: “Tá tudo bem não se encaixar. Tá tudo bem ser esquisito, estar quebrado. Eu também estou.”

Lembro de ouvir “No More Tears”, “Mr. Crowley”, “Bark at the Moon”, e sentir um arrepio que misturava dor, consolo e alívio. Era como respirar fundo pela primeira vez depois de um dia inteiro segurando o ar.

Hoje, quando recebi a notícia da sua morte, foi como se todas aquelas memórias explodissem ao mesmo tempo. As noites com os amigos. As conversas confusas. Os olhos marejados. O medo do que viria depois. Mas, acima de tudo, veio a gratidão. Porque eu sei: se não fosse o metal — e se não fosse por caras como o Ozzy — talvez eu não estivesse aqui pra escrever isso.

A música me salvou.

E Ozzy, mesmo sem saber, fez parte disso.

Descanse em paz, velho.

E obrigado. Por ter sido trilha, abrigo, presença. Por ter feito parte da nossa fuga — e da nossa cura.

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