O assunto favorito nas redes sociais nesta última semana foi uma polêmica foto da 19ª Parada do Orgulho GLBT, onde a transexual Viviany Beleboni encenou uma crucificação para representar a “agressão e a dor que a comunidade LGBT sofre diariamente no país“.
Questionada pelo Portal G1, Viviany explicou que vê a Parada como um protesto, não uma festa. “Usei as marcas de Jesus, que foi humilhado, agredido e morto; justamente o que tem acontecido com muita gente do meio GLS, mas com isso ninguém se choca. Nunca tive a intenção de atacar a igreja. A ideia era, mesmo, protestar contra a homofobia”.
Infelizmente, o recado foi mal interpretado e foi suficiente para que milhares de pessoas vomitassem com os dedos no Facebook ao posicionar-se contra o protesto: “como querem respeito se eles mesmos (os gays) não respeitam a religião dos outros?”
Primeiramente, desde quando os católicos e principalmente os evangélicos radicais respeitam a sexualidade alheia? Que tipo de respeito é esse que compara os homossexuais à pedófilos e bandidos e que chega ao ponto de um deputado pastor criar um projeto de lei popularmente apelidado de “cura gay”?
Essas ideias preconceituosas, vinda de fundamentalistas evangélicos e católicos, eu até consigo entender. O que não deu pra engolir foram os vários posts no Facebook de pessoas ligadas à comunidade rock/metal dizendo-se ofendidas com a encenação de Viviany e compartilhando postagens de Silas Malafaia e Marcos Feliciano (dois exemplos do quanto o ser-humano pode ser preconceituoso e acéfalo) para criticar o protesto.
Os mesmos “roqueiros/metaleiros” que sempre se gabam ser mais inteligentes e cultos do que as pessoas que curtem gêneros musicais populares, os mesmos que ouvem e compram discos do Slayer, Deicide, Gorgoroth, Cradle of Filth, Marilyn Manson, Belphegor, Sepultura… Isso só pra citar algumas bandas que já usaram a imagem de Cristo crucificado nas capas de seus álbuns ou em seus videoclipes.
Será que o mesmo fã do Deicide que achou um absurdo o protesto da Parada LGBT também ficou indignado com a capa e contracapa do disco “Once Upon the Cross” ou quando assistiu ao DVD “Black Mass Kraków” dos noruegueses Gorgoroth, onde exibiam no palco algumas mulheres crucificadas?
Achou pouco? Então vamos lá.
O videoclipe da música “Arise“, do nosso querido Sepultura, exibe pessoas crucificadas usando máscaras de gás. Por que ninguém do metal se chocou com isso? Ou mesmo com a capa do LP “Rotting” do Sarcófago?
Outro belo exemplo, mas fora do Metal, é a capa da revista Placar. O jogador de futebol Neymar aparece crucificado para demonstrar o quanto ele estava sendo “crucificado pelo povo” naquela época. Alguém aí ficou puto com isso? Claro que não! Afinal, é o Neymar, um homem hétero, futebolista, paixão nacional, tudo bem, ele pode!
Já Viviany Beleboni, não. Beleboni é uma mulher transexual, ou seja, gente suja que não merece estar no planeta.
Portanto, cheguei a uma conclusão: a revolta dos hipócritas, sejam eles católicos, evangélicos ou metaleiros, nunca foi contra o manifesto, mas contra os manifestantes. Mais um exemplo de homofobia disfarçada de revolta.
Confira algumas bandas que usaram a crucificação ou imagens religiosas nas capas de seus discos e vídeos
O Sarcófago também quis fazer seu protesto no EP "Rotting", em 1989. |
Muito antes de usar a crucificação no clipe de “Arise”, o Sepultura já havia usado a imagem da crucificação de Cristo na capa do disco “Morbid Visions”, em 1986. |
Capa do EP "Insantification", da banda mineira In Memorian. |
Cenas do DVD "Black Mass Kraków 2004", do Gorgoroth |
Os austríacos do Belphegor exibiram uma freira nua com corpse paint se esfregando na cruz, no videoclipe “Lucifer Incestus“ |
O que será que os pseudo-metaleiros cristãos fundamentalistas acharam da capa do primeiro cd do Mysteriis? |
Os curitibanos do Amen Corner sempre curtiram satirizar a imagem de Cristo tanto nas letras quantos nas capas. |
Capa da demo “Fuck Me Jesus”, lançada em 1991, pela banda sueca Marduk. |