O assunto que mais bombou nas redes sociais nesta semana foi uma polêmica foto da 19ª Parada do Orgulho GLBT, na qual a transexual Viviany Beleboni encenou uma crucificação para simbolizar a “agressão e a dor que a comunidade LGBT sofre diariamente no país”.
Em entrevista ao Portal G1, Viviany explicou que enxerga a Parada como um protesto, não apenas uma festa. “Usei as marcas de Jesus, que foi humilhado, agredido e morto; justamente o que tem acontecido com muita gente do meio GLS. Mas isso não choca ninguém. Nunca tive a intenção de atacar a igreja. A ideia era, mesmo, protestar contra a homofobia”.
Mesmo assim, a mensagem foi mal interpretada e provocou uma enxurrada de críticas nas redes. Muitos questionaram: “como querem respeito se eles mesmos não respeitam a religião dos outros?”.
Primeiro, desde quando católicos e, principalmente, evangélicos radicais respeitam a sexualidade alheia? Que tipo de respeito é esse que associa homossexuais a pedófilos ou criminosos e chega ao ponto de um deputado pastor propor um projeto popularmente apelidado de “cura gay”?
As ideias preconceituosas vindas de fundamentalistas evangélicos e católicos até são previsíveis. O que chamou atenção foram os diversos posts de pessoas ligadas à cena rock/metal se dizendo ofendidas com a encenação de Viviany — e compartilhando publicações de Silas Malafaia e Marcos Feliciano para criticar o protesto.
Os mesmos “roqueiros/metaleiros” que se orgulham de ser mais cultos e inteligentes do que fãs de gêneros musicais populares, e que escutam e compram discos de Slayer, Deicide, Gorgoroth, Cradle of Filth, Marilyn Manson, Belphegor, Sepultura… ou seja, bandas que já usaram a imagem de Cristo crucificado em capas de álbuns ou videoclipes, agora se dizem ultrajados.
Será que o mesmo fã de Deicide que se indignou com o protesto da Parada GLBT também ficou chocado com a capa e contracapa do disco Once Upon the Cross, ou com o DVD Black Mass Kraków, do Gorgoroth, onde algumas mulheres eram crucificadas no palco?
Achou pouco? Então vamos continuar.
Já Viviany Beleboni? Não. Beleboni é uma mulher transexual, e, segundo os críticos, “gente suja que não merece estar no planeta”.
A conclusão é clara: a revolta dos hipócritas — sejam católicos, evangélicos ou metaleiros — nunca foi contra o protesto em si, mas contra os "manifestantes". Mais um exemplo de homofobia disfarçada de indignação moral.
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O Sarcófago também quis fazer seu protesto no EP "Rotting", em 1989. |
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Muito antes de usar a crucificação no clipe de “Arise”, o Sepultura já havia usado a imagem da crucificação de Cristo na capa do disco “Morbid Visions”, em 1986. |
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Capa do EP "Insantification", da banda mineira In Memorian. |
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Cenas do DVD "Black Mass Kraków 2004", do Gorgoroth |
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Os austríacos do Belphegor exibiram uma freira nua com corpse paint se esfregando na cruz, no videoclipe “Lucifer Incestus“ |
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O que será que os pseudo-metaleiros cristãos fundamentalistas acharam da capa do primeiro cd do Mysteriis? |
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Os curitibanos do Amen Corner sempre curtiram satirizar a imagem de Cristo tanto nas letras quantos nas capas. |
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Capa da demo “Fuck Me Jesus”, lançada em 1991, pela banda sueca Marduk. |