Da esq. p/ dir.: Renato Speedwolf (B), André Nadler (G/V), Filipe Stress (BT) e Ric Mukura (G) |
Jackdevil é uma banda de heavy/thrash metal formada em São Luis/MA em meados de 2010. De lá pra cá, tornaram-se uma das bandas mais ativas da cena brasileira, seja gravando álbuns , eps, realizando apresentações ao vivo ou lançando videoclipes.
Com o lançamento de “Evil Strikes Again”, seu segundo álbum de estúdio, os Jackdevil provam que não são mera modinha passageira, como muitos acusaram no inicio. “Viemos pra ficar e não iremos parar tão cedo!”, afirma André Nadler, vocalista e guitarrista da banda.
Conversei com o vocalista/guitarrista Andre Nadler sobre o novo álbum e não pude deixar de perguntar sobre os boatos no underground sobre ser uma banda de white metal.
“Unholy Sacrifice” (2014) foi um álbum baseado nos livros e filmes de Stephen King. Desta vez, qual temática vocês abordaram em "Evil Strikes Again"?
O “Evil Strikes Again” não é um álbum conceitual como foi o “Unholy Sacrifice”. Dessa vez optamos por temáticas variadas abordando diversas esferas do terror, do real ao imaginário, mas ainda no mesmo clima do que foi feito anteriormente. Músicas como “Death by Red Lights”, que narra a história do bandido da luz vermelha e “Devil Awaits”‘, inspirada no filme “A Morte do Demônio” são bons exemplos para se analisar o que está contido nas canções do novo disco.
O tempo entre o lançamento desses álbuns é relativamente curto. Quais diferenças você aponta entre os dois?
“Unholy Sacrifice” e “Evil Strikes Again” retratam o mesmo Jackdevil, mas em momentos diferentes, pois apesar de apenas um ano de diferença, creio que existe um salto enorme dentro da qualidade sonora e um amadurecimento que nos permitiu envolver de forma frontal o que há de clássico e inovador em nossa música. Conseguimos extrair de forma mais intensa o que havia de influência e de personalidade na banda. Nos dedicamos por meses ao trabalho desse álbum e registramos todos os pontos positivos e negativos da nossa trajetória para que alcançássemos bons resultados.
Este trabalho é o segundo full-lenght da banda. Porém, se juntarmos com os EP’s, esse é praticamente o quarto lançamento em apenas 4 anos, algo que não é muito comum por aqui. Como funciona esse processo pra vocês?
O Jackdevil aposta no ‘faça você mesmo’ e nos últimos anos o empenho em ofícios como edição gráfica, engenharia de som e produção de conteúdo audiovisual foi algo presente em nosso cotidiano. O objetivo principal está sendo aprender ao máximo esse tipo de coisa para que possamos ter ainda mais domínio de tudo que produzimos.
No final das contas, para que hoje o Jackdevil tenha em mãos esses quatro materiais lançados, assassinamos inúmeros momentos de diversão, abdicamos dos dias de descanso, trocamos o tempo com a família pelos dias internados dentro do estúdio apenas com a companhia um do outro.
Contar a história do Jackdevil é falar sobre as nossas quatro vidas, pois dedicamos elas ao que está sendo feito desde que decidimos colocar para frente esse sonho lúcido de tocar heavy metal!
Vocês fizeram alguns shows no sudeste pela primeira vez em 2013. Quais lembranças que você tem sobre essa passagem por aqui?
Os shows que fizemos nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo em nossos primeiros anos de existência fazem parte de muitas das nossas conversas, pois guardamos boas recordações de vários deles. Além das apresentações também posso destacar os inúmeros amigos e excelentes entrevistas que surgiram naquela ocasião. Tocamos por cinco dias seguidos logo na primeira semana! Mas também muita coisa inusitada aconteceu.
Faltou local para ficarmos e acabamos dormindo juntos em um motel daqueles de cama redonda e espelho no teto, o Filipe (Stress, baterista) perdeu os documentos dele no metrô em São Paulo, nos perdemos por várias vezes nas cidades e eu quase fui esmagado pela porta do metrô (risos). Aguentar o fedor dos meus companheiros de banda que passaram dias sem tomar banho foi uma tarefa complicada e já me preocupo com essa próxima turnê que contém mais de 20 shows e por vários países.
Enfim, tentamos sempre nos divertir em todos os momentos e ultrapassar os obstáculos de continuar com o Jackdevil firme e forte.
Em novembro vocês retornam a São Paulo para alguns shows. Como está a expectativa?
São Paulo sempre nos recebe de braços abertos e a maior prova disso é a quantidade de amigos que temos na cidade. Vários parceiros de estrada estão por lá como a Leather Faces, Mad Dög, Nervosa, Fire Strike, e muitas outras.
Para a ‘Evil Strikes Again Tour 2015’ temos alguns shows já marcados em São Paulo ao lado do Onslaught e estamos nos preparando para fazer o melhor que podemos, por onde passarmos.
O que você tem a dizer sobre o boato que saiu nas redes sociais afirmando que a banda foi formada em uma igreja e que vocês são cristãos?
Imagino que o motivo desse boato seja porque meu primeiro envolvimento com música foi na igreja, quando garoto. Foi onde aprendi a tocar e não tenho vergonha disso. E por que teria?
De qualquer modo não somos cristãos e não temos ligação nenhuma com religião – qualquer uma que seja! Desde a primeira vez que ouvi esse murmurinho eu me pergunto apenas uma coisa: e se fôssemos? Seríamos massacrados, discriminados ou iriam aproveitar a moda dos linchamentos e providenciar um para cada pessoa religiosa que gosta de metal? Somos contra todo e qualquer tipo de discriminação e intolerância!
O Jackdevil é uma banda de heavy/thrash metal e não uma horda de black metal para levar assuntos extremistas tão a sério. Estamos falando do mesmo metal pesado do Dave Mustaine (Megadeth), Tom Araya (Slayer) e Nicko McBrain (Iron Maiden), que se declararam cristãos e continuam com seus trabalhos dentro do estilo. Afinal de contas, a sua vida pessoal é problema seu, eu quero te ver no palco!
Eu não quero saber o que você faz no seu dia a dia. Imagino que o metal foi feito para fugir desse regime imposto pelo sistema e não para ser outra maneira de oprimir as pessoas. Acho que temos inimigos maiores dentro do metal brasileiro para nos preocuparmos, como por exemplo, produtores corruptos que não pagam as bandas, um público preguiçoso que trocam shows por seus computadores repletos de mp3, falta de estrutura para eventos do estilo em vários locais do Brasil, etc.
Por fim, dizem que a ‘inveja é a amargura que se sofre por causa da felicidade alheia’ e boatos acontecem quando alguém que não tem nada de útil a fazer resolve gastar seu tempo falando da vida de outra pessoa. Talvez essa seja a resposta mais objetiva.
No final, você concorda que os headbangers troo acabam se tornando tão fanáticos quanto os fanáticos que eles criticam?
Veja bem, eu acho estranho o criticar todas as religiões e tentar transformar o metal em mais uma. É claro que não há democracia sem liberdade de expressão, mas obrigar as pessoas a acreditar e se comportar como você julga ser a maneira correta se chama regime, e nós, brasileiros, já superamos isso, certo?
Na minha opinião, no país da corrupção não poderia ser diferente e a religião se torna apenas mais um veículo sanguessuga dos bolsos do cidadão brasileiro, mas cada um segue o quiser e quando quiser. O perigo é até onde o tal extremismo no metal pode chegar. Enquanto todas as reclamações se resumirem aos protestos virtuais e debates está de bom tamanho. Recentemente vi alguns ‘xiitas’ do metal falando que era totalmente inadmissível que bandas de metal de verdade participem de eventos beneficentes porque não devemos ter misericórdia dos fracos, acredita? (risos)
Essas regras criadas dentro do cenário nacional afastam muitas pessoas que gostariam de fazer parte do movimento. Toda essa história acaba diminuindo o número de garotas no show, a molecada fica inibida de entrar para o rock e esse papo deixa de canto o principal motivo de sairmos de casa em direção aos shows: música e diversão.
Esse tipo de crítica acontece também no estado do Maranhão ou por aí as coisas são mais tranquilas?
Acontece um pouco aqui no Maranhão também através de um grupo específico de pessoas, mas é bem evidente o objetivo dos que estão envolvidos com isso: atrapalhar o trabalho da banda por algum motivo que desconheço. Acho que seria muito mais simples apenas não gostar do Jackdevil, mas tem gente que vai além e perde seu tempo almejando o fracasso das bandas novas que estão se destacando.
O pior é que ainda tem gente que cai nessa e não procura se informar. Só não sei se isso é burrice ou ignorância porque a ignorância é o desconhecimento dos fatos e das possibilidades e a burrice é uma força da natureza.
A ignorância quer saber, a burrice acha que já sabe.
Falando em Maranhão, como ficou a cena daí após o fracasso do M.O.A.?
Ultimamente poucas bandas estão surgindo aqui na capital maranhense, os shows estão instáveis porque ora estão lotados, ora estão vazios e poucas turnês de grupos internacionais de rock n’ roll estão passando por aqui, pois falta mesmo até casas de show que possam abrigar os eventos.
Mas em contrapartida aconteceram coisas boas também e hoje em dia temos ótimas bandas que não deixam nada a desejar em relação aos movimentos de outros cantos do Brasil e do mundo. Em que outra época tínhamos bandas maranhenses tocando fora do país e sendo destaque em revistas, blogs e outros veículos de comunicação ao redor do mundo.
Realmente, é uma época difícil de ser avaliada, mas nós do Jackdevil nos esforçamos para ajudar como podemos e mesmo que já tenham fechado muitas portas quando começamos por aqui, sempre fazemos questão de abrir outras para aqueles que fazem os corres em nossa cidade natal e faremos isso sempre que possível.
Vida longa ao metal maranhense, que mesmo mergulhado em tantas “adversidades” (leia-se falta de estrutura, fofoquinhas, mimimi’s e tretas) sempre consegue surpreender e lançar novos talentos como a Leopard Machine, School Thrash, Púrpura Ink, Royal Dogs, RedBeer Club, e outras.
Por fim, deixe seu recado para a galera!
Deixamos aqui o nosso eterno agradecimento aos que compartilham das nossas conquistas e nos ajudam nessa estrada, seja direta ou indiretamente. Que o metal nacional seja cada dia mais valorizado e que tenha menos cuzões. Que o fazer seja mais importante que o falar. Que as pessoas valorizem mais a música e menos os bastidores.